Título: Estudantes voltam às ruas por liberdade de expressão
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2007, Internacional, p. A26

Milhares de estudantes das universidades Andrés Bello, Simón Bolívar e Central da Venezuela voltaram ontem às ruas da capital venezuelana para protestar contra o fechamento da Rádio Caracas Televisão (RCTV) e defender o direito à liberdade de expressão. A manifestação pretendia seguir até a Assembléia Nacional para entregar um documento a deputados governistas contendo as exigências dos estudantes para pôr fim ao movimento, mas a polícia impediu o acesso ao Parlamento.

Aos gritos de ¿não somos golpistas, somos estudantes¿, os universitários preferiram interromper a passeata diante da Conferência Episcopal Venezuelana, sede da Igreja Católica no país.

Depois de intensas negociações, eles formaram uma comissão e conseguiram falar com o deputado Ismael García, do Podemos, partido que apóia de maneira crítica o governo do presidente Hugo Chávez. O presidente da Federação de Centros Universitários, Stalin González, entregou a lista de reivindicações a García.

De acordo com o documento, são cinco as exigências dos manifestantes: retorno do sinal da RCTV, compromisso de isenção da TVes (emissora estatal criada para substituir a RCTV), conduta responsável dos meios privados e estatais, libertação de todas as pessoas presas por defender os direitos civis, e renovação da concessão de cem emissoras de rádio.

O deputado García disse esperar que a comissão formada pelos estudantes seja ¿um instrumento para abrir os canais de negociação com o governo¿, acrescentando: ¿Ainda que não tenhamos a mesma opinião, temos de analisar as reivindicações.¿

O líder estudantil John Goicochea, da Universidade Católica Andrés Bello, reclamou da decisão das autoridades de não deixar a marcha prosseguir até a Assembléia por falta de autorização da prefeitura.

¿Queremos que na Venezuela, um dia, todos os estudantes possam realizar livremente manifestações pelas ruas de Caracas¿, afirmou Goicochea, que pediu respeito aos jovens estudantes.

De acordo com os líderes estudantis, as manifestações pela liberdade de imprensa, que começaram na semana passada, não têm data para terminar. Os universitários já marcaram outra passeata para terça-feira, dessa vez em direção ao Supremo Tribunal de Justiça.

Ontem, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que por trás do movimento estudantil ¿está um grupo formado por políticos e donos de canais privados¿ de televisão. ¿São os mesmos golpistas de sempre¿, acrescentou Maduro. ¿Por trás dos estudantes estão a CIA e os setores que querem desestabilizar o governo do presidente Chávez.¿

Maduro alertou que qualquer organismo internacional que ¿tente pautar a Venezuela¿ receberá ¿uma resposta contundente do governo¿.

Outras manifestações estudantis foram realizadas ontem em diversas cidades venezuelanas, entre elas Maracaibo, Mérida, Porlamar e Valência. Em Maracay, a 90 quilômetros de Caracas, quatro pessoas ficaram feridas e outras seis foram detidas após confronto entre estudantes e chavistas.