Título: Congresso brasileiro reage a Chávez
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2007, Internacional, p. A26

¿Leviano¿,¿irresponsável¿ e sem estatura de chefe de Estado. Essas foram algumas das reações do Congresso brasileiro à declaração do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que chamou o Parlamento do País de ¿papagaio de Washington¿. O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Heráclito Fortes (DEM-PI), defendeu que a Venezuela seja retirada do Mercosul.

Os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), repudiaram o comentário de Chávez. O venezuelano atacou o Congresso na noite de quinta-feira, numa reação à decisão de senadores brasileiros que, por meio de requerimento feito na véspera, pediram a Chávez que reconsiderasse a decisão de não renovar a concessão da emissora Rádio Caracas Televisión (RCTV), fechada no último domingo. ¿Um chefe de Estado que não sabe conviver com uma manifestação democrática, como foi a do Senado brasileiro, é porque, provavelmente, está caminhando na contramão da democracia¿, disse Renan, reafirmando a defesa do conteúdo da carta enviada a Chávez. ¿É uma afirmação desrespeitosa e refuto informação ou insinuação que o Congresso esteja subordinado a qualquer outro poder¿, destacou Chinaglia.

O presidente do Senado reafirmou a defesa da manutenção da RCTV em funcionamento e afirmou que sempre defendeu a democracia e a liberdade de expressão. ¿Qualquer movimento contra a democracia, contra a liberdade de imprensa e de expressão tem de ter veemente repúdio, e o Senado deve se manifestar contra isso toda vez que acontecer¿, afirmou Renan.

PUNIÇÃO

Para Chinaglia, Chávez ¿está contaminado pela disputa interna que tem na Venezuela e, evidentemente, se dá a um direito (de julgar) que não tem¿. Mais tarde, em nota oficial, o presidente da Câmara classificou como ¿levianas e irresponsáveis¿ as declarações do presidente venezuelano. ¿Não condizem com a estatura que se requer de um chefe de Estado.¿

A declaração de Chávez levou os senadores a ocupar a tribuna em plena sexta-feira para protestar contra o presidente venezuelano. O senador Heráclito Fortes defendeu que a Venezuela fique fora do Mercosul enquanto perdurar o comportamento antidemocrático do presidente venezuelano.

¿Não recebi com surpresa porque o senhor Chávez tem tido comportamento como esse ao longo de sua administração. Há um mês ele atacou a figura do papa (Bento XVI), que se encontrava na América do Sul¿, anotou o senador. ¿Não respeitar a opinião de um Parlamento é muito esquisito.¿ Para Heráclito, a Venezuela vive um ¿momento grave¿. ¿Chávez mudou a estrutura do Judiciário, garroteou o Legislativo e agora ataca a imprensa, cerceando liberdade. É uma marcha batida de quem quer um governo onde as forças democráticas não incomodem¿, afirmou.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) lembrou que o mesmo Congresso agora atacado por Chávez apoiou o venezuelano contra o golpe de Estado que o derrubou em 2002. Poucos dias depois, Chávez conseguiu reassumir a presidência com o apoio popular e militar. ¿Quando houve essa tentativa de golpe, eu propus e aprovei, na Câmara, moção contra o golpe e em defesa de uma solução democrática para a crise, com respeito ao governo eleito¿, recordou Mercadante, que, na época era deputado federal.