Título: Bush rebate Putin e critica Rússia
Autor: Dorlhiac, Gabriella
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2007, Internacional, p. A30

Em nova escalada da tensão ente EUA e Rússia, o presidente americano, George W. Bush, criticou ontem em Washington a retórica de Moscou e disse estar preocupado com a democracia russa. As declarações foram uma resposta ao presidente russo, Vladimir Putin, que anteontem acusou os EUA de reiniciar a Guerra Fria.

Nas últimas meses, os dois países vêm trocando acusações mútuas. Falando a jornalistas da Europa, para onde embarca na semana que vem para participar da cúpula do G-8 na Alemanha e depois visita outros países, Bush disse que ¿a retórica russa é de recrudescimento da Guerra Fria, exatamente como já declarou Robert Gates (secretário da Defesa dos EUA)¿.

Para o presidente americano, no entanto, a Guerra Fria acabou e os países precisam agora lidar com verdadeiras ameaças. Bush reiterou que os EUA não desistirão da instalação de um escudo antimíssil na Europa, um dos principais pontos de discórdia entre os países. ¿Queremos o escudo para proteger os Estados livres e democráticos de nações párias. A Rússia não é um Estado pária, portanto, não tem motivo para preocupar-se¿, afirmou. O ministro russo da Defesa, Anatoly Serdyukov disse que o escudo era uma ¿bomba disfarçada na porta da Rússia¿.

Bush também demonstrou-se preocupado com a democracia na Rússia. ¿Putin nos afirma que a democracia vai bem em seu país, mas vemos o assunto de maneira diferente¿, disse o presidente americano. Os comentários americanos mais duros, no entanto, foram feitos na quinta-feira pelo subsecretário assistente para assuntos Europeus e Eurasiáticos, David Kramer. Em discurso na cidade de Baltimore, Kramer afirmou que ¿as recentes ações do Kremlin refletem tendências negativas em relação aos direitos humanos e a democracia dentro da própria Rússia¿. Segundo ele, o lema das relações entre os dois países deveria ser: ¿Cooperar quando possível, empurrar quanto necessário¿. O discurso ilustra a política do governo dos EUA de usar membros do baixo escalão para fazer as críticas mais duras, permitindo que os líderes tenham espaço para negociar.

A deterioração das relações entre EUA e Rússia intensificou-se no começo deste ano, quando os americanos anunciaram seu plano de instalar o escudo antimíssil na Polônia e na República Checa, ex-países comunistas. Segundo o governo Bush, o escudo protegeria os EUA contra um eventual ataque nuclear do Irã. Acostumado a ter influência na região, o governo russo acusou Washington de ameaçar a segurança do país. Como retaliação, Moscou congelou sua participação no Tratado de Forças Convencionais da Europa, que regula o deslocamento de tropas e de armas na região. Além do escudo, EUA e Rússia também vêm discordando sobre o futuro de Kosovo. Os americanos apóiam a autonomia do território, enquanto os russos são contra.

Apesar da dura troca de acusações, ainda pode ser cedo para se falar sobre uma nova Guerra Fria. ¿Uma verdadeira deterioração está acontecendo, mas ela não significa uma nova Guerra Fria¿, disse ao Estado, por telefone, o assessor especial do governo americano para novos Estados independentes, Stephen Sestanovich. Para Sestanovich, ambos os países têm fortes laços econômicos e são parceiros em questões-chave, como as sanções da ONU contra o Irã.

Além disso, Sestanovich ressaltou que EUA e Rússia elegerão novos presidentes em 2008. ¿Os novos presidentes terão a oportunidade de mudar as políticas atuais¿, disse o assessor. Durante a reunião do G-8, Bush e Putin terão um encontro privado. No dia 1 e 2 de julho, Putin visita a residência da família Bush em Kennebunkport, Maine.