Título: Mercado prevê corte de 0,5 ponto
Autor: Assis, Francisco Carlos de e Leonel, Flávio
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2007, Economia, p. B4

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deverá reduzir em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros (Selic), dos atuais 12,5% para 12% ao ano, na que poderá ser, na terça e na quarta-feira,uma de suas reuniões mais difíceis, segundo pesquisa realizada pela Agência Estado.

Embora a aposta majoritária seja de um corte de 0,5 ponto, há argumentos consistentes também do lado dos que defendem a manutenção do ritmo de redução da Selic nominal em 0,25 ponto. A AE ouviu analistas de 60 instituições financeiras e 44 esperam uma redução de 0,5 ponto porcentual e outras 16 prevêem queda de 0,25 ponto.

Os defensores de um corte de 0,5 ponto apóiam-se em argumentos como a exuberância do cenário externo, que traz reflexos para a desvalorização do dólar e impactos sobre a inflação. Citam também a elevação do Brasil para apenas um degrau abaixo do grau de investimento por duas agências de classificação de risco como motivo para abrir uma ampla janela de oportunidades para acelerar o corte dos juros.

Outras justificativas foram a percepção de que, com a inflação apontando para um número abaixo do centro da meta, a taxa de juros está fora de lugar, o que mantém o Brasil no topo da lista dos países com os maiores juros reais.

No grupo dos analistas que esperam a manutenção do ritmo de corte da Selic em 0,25 ponto, a primeira preocupação está associada à expansão da atividade e ao espaço que ela poderá abrir ao repasse de preços em algum momento. Na visão desses analistas, se é verdade que o real valorizado propicia importados mais baratos, no mercado externo os preços das commodities têm aumentado em proporção quase três vezes maior que a queda do dólar.

¿Não vejo razões para fornecer mais estímulos à economia neste momento. Já temos estímulos suficientes para garantir boa formação de atividade este ano¿, disse o economista-chefe do M. Safra, Marcelo Fonseca, que tem ao seu lado, entre outros, o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e economista-chefe do ABN Amro Bank para a América Latina, Alexandre Schwartsman.

A percepção de que o Copom poderia elevar a velocidade dos cortes da taxa básica de juros já em junho, que vem ganhando adeptos, surgiu a partir do dissenso na reunião do mês passado, quando três dos sete diretores do comitê votaram a favor de um corte de 0,5 ponto. De lá para cá, a composição da diretoria do BC foi alterada. Há quem acredite que, nessa mudança, o BC possa ter perdido um pouco do perfil mais conservador. Mas o dissenso deve ser mantido, tornando esta uma das mais difíceis reuniões do Copom.