Título: Para a PF, policiais recebiam mesada
Autor: Macedo, Fausto e Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2007, Nacional, p. A4

As investigações da Polícia Federal mostram que a máfia dos caça-níqueis oferecia mesadas a policiais ou se associava a eles para atuar na ilegalidade e movimentar até R$ 250 mil por dia. Um dos casos é o do chefe do Deops, delegado Fernando Augusto Soares Martins, acusado de receber R$ 10 mil mensais para não apreender as máquinas. Indiciado por corrupção passiva, ele foi um dos presos na Operação Xeque-Mate.

Ao todo, foram presos 14 policiais, mas surgiram outros nomes após o vazamento de papéis do processo. O relatório da PF informa que policiais ¿passaram a integrar os grupos criminosos, recebendo parcela na divisão dos lucros auferidos¿.

Entre eles, cita os coronéis da Polícia Militar Edson Gonçalves da Silva e Marmo Marcelino Vieira de Arruda, além do inspetor da Polícia Civil Edmo Medina Marquetti. O caso que mais chama a atenção, porém, é o do ex-comandante Ivan Almeida da Silva, que liderou a PM no governo Zeca do PT. Hoje ele é deputado estadual pelo PSB - na campanha, fez dobradinha com o então candidato a deputado federal Nilton Servo (PSB) - o suposto chefe da máfia.

Coronel Ivan aparece nas investigações como sócio de uma das organizações. Por ter foro privilegiado, não foi investigado nem indiciado.

Já foi sugerido o desmembramento do caso e a abertura de novo processo em instância superior. Em uma das conversas gravadas pela PF, Ivan cobra sua participação nos lucros de um dos supostos chefes da máfia, Ari Silas Portugal.

PRÁTICA COMUM

O pagamento de propinas para policiais era prática comum, segundo os grampos. O policial civil Odiney de Jesus Leite, por exemplo, receberia R$ 1 mil para si e R$ 1 mil para outro policial. Em Ilhabela, diz a PF, Dario Morelli Filho corrompia policiais. Em Chapecó (SC), segundo o inquérito, Paulo do Carmo Sgrinholi teria oferecido R$ 3 mil para policiais não prenderem um funcionário e R$ 2 mil por ¿cobertura¿.

TRECHOS DA CONVERSA ENTRE PORTUGAL E IVAN

Coronel Ivan: ¿Eu vou parar com isto, chega de eu ficar com este negócio¿

Portugal: ¿Agora eu to anotando o dia que...¿

Coronel Ivan: ¿Não, não, negativo, você passou a mão em mim, tu desde segunda-feira que você quer me arrumar um dinheiro, e todo dia eu vou lá, então eu paro aqui, não quero mais¿

Portugal: ¿Eu vou te mostrar amanhã¿

Coronel Ivan: ¿Não, não, não, não usa mais o meu nome¿

Portugal: ¿Não, que é isso, deputado¿

Coronel Ivan: ¿Não, não usa. Chega de vocês usarem meu nome, rapaz, e vocês só usufruírem. Chega, parou¿

Portugal: ¿Você tá onde? O senhor quer ver agora?¿

Coronel Ivan: ¿Não, não quero mais, eu quero só que você me devolva aquelas 12 máquinas que são minhas, e o restante não quero nem saber¿(...)

Coronel Ivan: ¿Ari, eu te trato como cidadão e você me trata como moleque, você me dá o dia que você quer¿

Portugal: ¿De jeito nenhum¿

Coronel Ivan: ¿Ari, se você for fazer as contas, sério, eu tenho mais de 100 mil para receber de vocês¿