Título: MST veta presença de Lula em seu congresso nacional
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2007, Nacional, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretendia comparecer ao 5º Congresso Nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), que começou ontem, em Brasília, mas foi vetado pelos líderes do movimento. O dirigente nacional Vanderlei Martini disse ao Estado que a Casa Civil acenou com a possibilidade de o presidente ir ao ginásio Nilson Nelson, onde se realiza o Congresso, mas a coordenação recusou.

¿A conexão foi feita pelo secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e pelo ministro Tarso Genro, da Justiça¿, contou Martini. ¿Nós respondemos que o principal objetivo não era receber ou ser recebido pelo presidente, mas discutir a reforma agrária.¿ Foi dito aos dois que, se Lula quisesse, uma comissão do MST poderia ir até ele depois do congresso. Procurados, os ministros não foram encontrados.

Com essa posição, o MST pretende se distanciar de um de seus principais aliados. O descontentamento com o governo será manifestado numa carta a ser entregue ao presidente quinta-feira. O texto ainda será definido durante os debates, mas Martini adiantou que a mensagem conterá ¿críticas duras¿ como jamais Lula ouviu do MST.

Ao ser indagado se o movimento vai romper com o governo, ele disse que é o presidente que se afasta dos movimentos sociais. ¿Não é o MST que está rompendo. O que se deve perguntar é por que o governo Lula está se afastando do povo e, cada vez mais, se aproxima do agronegócio e dos banqueiros.¿ O líder contou que entre militantes há grande desapontamento com o governo. ¿O sentimento é de decepção. São mais de 350 mil famílias só do MST que continuam acampadas. O governo Lula sabe que está devendo ao MST.¿

Ele afirmou que até o ex-presidente Fernando Henrique, que tratava o MST como ¿inimigo¿, assentou mais. ¿Foram 130 mil famílias assentadas nos últimos quatro anos de FHC e apenas 86 mil em período igual de Lula.¿

Na abertura do Congresso, à noite, a dirigente Marina dos Santos, acusou o governo de dar prioridade ao capital internacional em detrimento das reformas que poderiam melhorar a distribuição de renda. Ela disse que o governo mantém a política de seguir à risca as regras internacionais e nada faz contra os ¿privilégios e interesses das elites¿.