Título: Dólar ignora medidas do BC e cai Mantega espera menos especulação com a moeda
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2007, Economia, p. B3

O dólar ignorou as novas regras anunciadas na sexta-feira para o mercado de câmbio e terminou o dia em queda de 0,99%, cotado em R$ 1,941. A moeda americana abriu o pregão em alta, mas inverteu o movimento ainda no início da manhã. Por volta das 15 horas, caiu 1,15%, para R$ 1,937. Em seguida, o Banco Central (BC) anunciou um leilão de compra de dólares, o que reduziu a intensidade da valorização do real.

Na avaliação de especialistas, embora positivas, as medidas anunciadas pelo BC não serão suficientes para conter a valorização do real. Isso porque o fluxo de recursos que tem entrado no País, seja financeiro, comercial ou por meio de investimento direto, é muito grande, afirmou o tesoureiro do Banif Investiment Bank, Rodrigo Boulos. 'As medidas diminuem o poder especulativo dos bancos. Mas não é isso que tem pressionado o câmbio, mas sim a relação risco/retorno do País, que é muito boa. A procura por real vai continuar.'

Entre as medidas anunciadas pelo BC está a redução da exposição cambial das instituições financeiras de 60% para 30% do patrimônio de referência. Além disso, o banco aumentou de 50% para 100% a exigência de capital para fazer frente ao nível de exposição. Essa última, no entanto, entrará em vigor apenas no dia 2 de julho, o que dá um certo tempo para as instituições se enquadrarem. A primeira medida já estava valendo desde ontem.

Na opinião do ex-diretor do BC e atual diretor para a América Latina do ABN Amro, Alexandre Schwartsman, os efeitos dessas mudanças serão muito pequenos sobre o câmbio. Ele argumenta que apenas os pequenos bancos que porventura tenham posições compradas ou vendidas em câmbio seriam impactados de forma mais significativa. 'Excluindo-se a natureza prudencial das medidas, no fundo, é o caso de muita espuma para pouco conteúdo', concluiu.

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto também não acredita na inversão da trajetória do câmbio por causa das novas regras. 'O BC produziu essa mudança e eu espero que ela se sustente. Mas não é suficiente para operar isso (a valorização do dólar ante o real). O que há é uma valorização natural do real, que acontece no mundo inteiro. Reflexo da desvalorização do dólar mundialmente', argumenta.

Para o gerente de câmbio do banco Prosper, Jorge Knauer, o efeito das medidas cambiais pode nem ser percebido diante da elevada entrada de dinheiro no País. 'O que vai haver é um ajuste gradativo no mercado, mas não um efeito manada', avalia. O executivo acredita que um dos motivos de o dólar ter ignorado as novas regras e caído ontem pode ser o fato de a moeda ter subido na semana passada por quatro pregões seguidos. Isso pode ter feito com que muitas instituições desfizessem posições. Ou seja, os bancos já teriam diminuído sua exposição cambial na semana passada.

Na opinião de Nathan Blanche, da Tendências Consultoria Integrada, a intenção do BC ao editar as novas medidas não foi intervir na formação de preços do mercado. Uma das possíveis razões foi a constatação, por parte do banco, de que haveria 'alavancagens impróprias' por parte de alguns bancos, diz. Ao limitar as posições, o BC estaria apenas tentando evitar problemas pontuais de excesso de alavancagem. 'A posição geral do sistema em termos de comprados e vendidos é muito pequena em relação ao patrimônio. Por isso, mesmo o BC tendo reduzido o limite de 60% para 30%, o impacto da medida no mercado foi praticamente nulo. As regras não modificaram a capacidade de arbitragem', afirma Blanche. COLABORARAM PAULA PULITI, RODRIGO PETRY E JOSUÉ LEONEL

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aprovou as medidas cambiais adotadas na sexta-feira pelo Banco Central (BC). Para Mantega, elas são importantes porque atuam no sentido de diminuir a exposição cambial dos bancos que operam no Brasil. 'Certamente reduzem a especulação com o dólar', disse Mantega. 'São boas porque são prudentes, dão mais segurança, estabilidade ao mercado e impedem que instituições possam fazer operações de vulto maior e depois não possam dar cobertura a elas.'

Pelas medidas aprovadas, a exposição cambial dos bancos teria, desde ontem, que ser reduzida de 60% para 30% do patrimônio da instituição. O BC passou a exigir dos bancos que contabilizem a exposição cambial das operações feitas por filiais ou subsidiárias no exterior.

O BC também aumentou de 50% para 100% a exigência de capital necessário para enfrentar a exposição cambial dos bancos. Ou seja, um banco com R$ 100 milhões em exposição cambial deverá ter um capital do mesmo montante, pelo menos, se quiser manter esse nível de exposição, o que estreita a margem para que instituições tomem empréstimos baratos no exterior para especular com o dólar aqui dentro.

Sobre o impacto no dólar, Mantega evitou prognósticos. 'Vamos ver os resultados, mas a tendência é de se estabelecer um limite.'