Título: Negociadores da OMC voltam a fazer exigências
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2007, Economia, p. B12

Às vésperas do início da fase final da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), os principais negociadores endureceram o discurso. Os países emergentes, liderados pelo Brasil, alertaram que cortarão no máximo 50% das tarifas de importação de produtos industrializados e deixaram claro que os Estados Unidos terão de aceitar a redução substancial de seus subsídios agrícolas na próxima semana. A Casa Branca advertiu que poderá retirar as suas propostas e disse que quem tem de fazer concessões são os países emergentes.

Hoje diplomatas e técnicos do Brasil, da Índia, dos Estados Unidos e da União Européia (UE) começam uma maratona de quase duas semanas para concluir a rodada. Os quatro governos terão a responsabilidade de tentar chegar a um entendimento que, depois, será levado aos demais países da OMC.

Diplomatas dos 150 membros são quase unânimes em apontar essas reuniões, que começam em Paris e terminarão na cidade alemã de Potsdam, como 'a última oportunidade de acordo'. Apesar de a reunião em Paris só contar com embaixadores - a participação dos ministros começará na Alemanha -, o chanceler Celso Amorim viajou para a capital francesa para instruir os negociadores, algo que nunca havia feito. Para diplomatas, a permanência do chanceler por duas semanas na Europa é mais uma demonstração de que o processo está em sua hora decisiva.

A rodada foi lançada em 2001, mas em julho de 2006 foi suspensa por falta de acordo. Agora, é necessário chegar a um acerto em apenas duas semanas para que a negociação não seja adiada para 2009. Isso porque vence a autorização dada pelo Congresso americano para que o Executivo negocie acordos comerciais. Sem os EUA, a OMC teria de esperar até o fim do governo George W. Bush para retomar o processo.

Ontem, em Genebra, Amorim reuniu os países do G-20 (economias emergentes) e os países importadores de alimentos para dar um sinal político de unidade das economias em desenvolvimento na batalha pela redução dos subsídios. Mas, nos bastidores, seus assessores apontam que o Brasil preferiria algum tipo de acordo nessa fase do que um fracasso do processo.

Países como a Tanzânia, porém, temem que Nova Délhi e Brasília negociem pelas economias em desenvolvimento sem que haja transparência suficiente no processo ou pressão suficiente sobre americanos e europeu. Ontem, Amorim fez questão de dizer que precisava da 'confiança de todos'. Recebeu um alerta de que terá de lutar contra as distorções criadas pelos países ricos se quiser retornar de Potsdam e ver o acordo aprovado pelos demais membros da OMC.

Os países emergentes, liderados pelo G-20, ainda aprovaram um documento ontem declarando que só aceitarão um acordo que signifique cortes reais nos subsídios americanos. O mais radical era o ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, que quer que os EUA estabeleçam o teto de US$ 11 bilhões por ano em subsídios. Mas Amorim estima que o número pode estar entre US$ 13 bilhões e inferior a US$ 15 bilhões. Hoje, a proposta americana é um teto de US$ 22 bilhões.

COBRANÇA

A Casa Branca respondeu à cobrança do G-20. Segundo a Representação de Comércio dos Estados Unidos, a questão não é a de aumentar a oferta americana, mas de saber até que ponto o G- 20 poderá flexibilizar a sua proposta para atender aos interesses dos EUA. Washington ainda deixou claro que poderia até retirar sua proposta se nada fosse oferecido em troca.

Mas, em termos industriais, os países emergentes insistem em que não há como aceitar cortes no setor além do que ganharão na agricultura. Um grupo formado por Argentina, Brasil, África do Sul, Venezuela e outros sete emergentes querem que o corte máximo de tarifas de importação no setor industrial seja de 50%, o que seria o equivalente a um coeficiente 35 na fórmula de cortes de tarifas da OMC.

'Os americanos querem que o corte de tarifas industriais sejam de 70%, algo que eles jamais fizeram em toda a história das negociações desde os anos 40', afirmou o secretário de Comércio da Argentina, Alfredo Chiaradia, que aponta que a tarifa média consolidada do Mercosul passaria a ser de 17%.