Título: Oposição e até aliados descartam arquivamento já
Autor: Scinocca, Ana Paula e Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2007, Nacional, p. A4

Até os aliados recuaram ontem no apoio incondicional ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e não aceitam absolvê-lo 'às cegas' na sessão marcada para hoje à tarde no Conselho de Ética. Renan responde a processo por quebra de decoro, acusado de ter contas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior. Para complicar a sua situação, elevou o coro para que ele renuncie à presidência do Congresso.

Desde que surgiram as denúncias, ontem, pela primeira vez, o senador perdeu a certeza de que terá a maioria de votos no conselho para arquivar o processo. Mudaram até os votos de petistas, como Augusto Botelho (PT-RR) e Eduardo Suplicy (PT-SP) - este último mandou Renan comparecer ao conselho para se justificar. Sem explicações cabais, Suplicy e Botelho ameaçam votar contra Renan.

Outro sinal de que a situação política havia se complicado veio com o fato de que o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), não conseguiu arrumar, nem mesmo entre a tropa de choque aliada, um senador para a função de relator, já que Epitácio Cafeteira (PTB-MA) pediu licença, por motivos de saúde. O nome mais provável era o de Wellington Salgado (PMDB-MG).

O PSDB e o DEM passaram a condicionar a absolvição à certeza de que não há irregularidades nas contas do senador. Renan tenta provar que usou recursos próprios, não do lobista, para pagar a pensão de uma filha com a jornalista Mônica Veloso. Os partidos marcaram reuniões para hoje de manhã. 'Preciso consultar a minha tribo', disse o tucano Arthur Virgílio (AM).

RENÚNCIA

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi mais longe e pediu em plenário a renúncia de Renan à presidência do Senado, alegando que a sua permanência desgasta a imagem da Casa a expõe os senadores à 'chacota'.

'Já há uma série de posições que nos vêem como ridículos, o pior que pode acontecer, porque quando tu cais no ridículo, do ridículo não consegues sair', disse. Reiterando declaração de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) ao Estado, Simon também acha que quem está sangrando não é Renan, mas o Senado. Para ele, o parlamentar 'marcaria sua posição se renunciasse'.

Simon não foi voz isolada. Jefferson Peres (PDT-AM) cobrou que Renan 'esqueça o fígado e o coração e utilize a razão'. Cristovam disse que o Brasil inteiro está cobrando uma apuração com rigor: 'Todos nós gostamos do Renan. Mas lá fora acham que estamos o apoiando em gestos equivocados.'

RECLUSÃO

O senador passou o dia recluso no gabinete, disparando telefonemas. Ao deixar a Casa, após reunião com a cúpula do PMDB, tentou demonstrar confiança. 'Tenho absoluta certeza de que a verdade prevalecerá', disse Renan. Afirmou que, em nenhum momento, se sentiu pressionado a deixar o cargo. 'Pressão? Só de vocês', disse à imprensa.