Título: Ministério Público denuncia 39, mas exclui Vavá
Autor: Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2007, Nacional, p. A13

A Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul denunciou ontem 39 investigados pela Operação Xeque-Mate e requereu à Polícia Federal que realize 'maiores investigações' sobre Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente Lula.

Indiciado pela PF pelos crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio, Vavá não foi denunciado à Justiça. Segundo a procuradoria federal, 'não há informações suficientes' nos autos sobre quem seriam os possíveis beneficiários do lobby que teria sido feito por Vavá.

A Xeque-Mate colocou Vavá no centro da apuração a partir do dia 4, quando agentes da PF fizeram uma blitz na residência dele, em São Bernardo do Campo. Documentos apreendidos, segundo avaliação da PF, indicam que ele teria feito lobby para empresários do jogo.

Irritado, o presidente Lula criticou a PF, a quem atribuiu responsabilidade pelo vazamento de informações do inquérito que correu sob segredo de Justiça.

Ao devolver o caso Vavá à PF, a procuradoria destacou que 'a eventual prática de alguma conduta criminosa pode ter ocorrido no Estado de São Paulo'.

Vavá foi flagrado pelo grampo da Xeque-Mate supostamente defendendo interesses da máfia dos caça-níqueis. Para a procuradoria, 'nem foram esclarecidas as circunstâncias e os fatos concretos a que se referiam os diálogos entabulados'. A PF sustenta que Vavá chegou a conversar pessoalmente com Lula sobre máquinas caça-níqueis.

Um dos denunciados é o empresário Dario Morelli Filho, compadre do presidente. A ele, a PF atribuiu o papel de 'corruptor de policiais'. Morelli é dono de uma casa de bingo em Ilhabela, litoral de São Paulo, em sociedade com o ex-deputado Nilton Servo, apontado como o líder da organização criminosa para exploração de jogos de azar. Dividida em 5 grupos, a máfia faturava cerca de R$ 250 mil por dia, segundo a PF.

O Ministério Público acusou formalmente Morelli pelos delitos de contrabando, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Ele havia sido enquadrado pela PF também por corrupção ativa. A denúncia será analisada pela Justiça, que decidirá se abre ou não processo criminal.

Os advogados Nélson Alfonso e Milton Fernando Talzi, que defendem respectivamente Vavá e Morelli, alegam inocência de seus clientes. Segundo eles, não existem provas de ligação de Vavá e Morelli com empresários e policiais corruptos.

Servo, amigo de Lula, está detido no presídio federal de Campo Grande. A procuradoria o denunciou por contrabando, quadrilha, corrupção ativa e falsidade ideológica. O advogado Eudes Rodrigues, que defende Servo, afirma que ele é inocente. Além de Servo, estão presos em caráter preventivo 8 suspeitos.

A PF indiciou 58 empresários, advogados e policiais. 'Com relação a alguns indiciados pela Polícia Federal ainda será necessária a realização de diligências para maior elucidação dos fatos, razão pela qual o Ministério Público Federal requereu a continuidade das investigações', destaca nota divulgada no início da noite de ontem. No texto, os procuradores se preocupam em assinalar que o Ministério Público é quem dá início à ação penal, 'uma vez que o inquérito policial constitui procedimento prévio a partir do qual o MPF forma sua convicção'.

CORONEL

Sobre o coronel Ivan de Almeida, deputado estadual de Mato Grosso do Sul pelo PSB, a procuradoria anotou que verificou 'apenas ao final das investigações que havia elementos de sua participação nos fatos'.

Os procuradores decidiram encaminhar essa parte da apuração ao Tribunal Regional Federal 3, foro competente para analisar a conduta do parlamentar que teria sido flagrado pelo grampo exigindo aumento na participação de valores arrecadados pela máfia. Ivan, que comandou a Polícia Militar/MS durante os 8 anos do governo Zeca do PT, diz que é inocente.

A denúncia do Ministério Público foi entregue ontem à 5ª Vara Criminal da Justiça Federal. Para o juiz Dalton Conrado, responsável pelo processo, 'é possível extrair das transcrições das conversas indícios de que os investigados teriam se associado, de forma estável e permanente, visando à exploração das máquinas caça níqueis'.

AÇÃO DA POLÍCIA - ENTENDA O CASO

A máfia

No dia 4/6, a PF deflagrou a Operação Xeque-Mate contra quadrilha que fazia contrabando de peças de caça-níqueis e tráfico de drogas

Os crimes

Falsidade ideológica, sonegação, exploração de prestígio, corrupção passiva e ativa, contrabando e formação de quadrilha

Os suspeitos

Entre as pessoas e acusados pela PF na operação estão homens do convívio do presidente Lula.