Título: Desembolsos do BNDES crescem 40% até maio
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2007, Economia, p. B5
Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) cresceram 40% neste ano, até maio, em relação ao mesmo período de 2006, e somaram R$ 19,1 bilhões. Na avaliação do presidente do banco, Luciano Coutinho, há um 'início de ciclo de investimentos em curso', principalmente nos setores industrial e de infra-estrutura.
A análise foi feita um dia depois de o economista ter comentado que os investimentos seriam maiores com o câmbio mais favorável. Coutinho fez o discurso de abertura do seminário Perspectivas do Investimento 2007-2010, na sede do banco. Mas evitou comentar o câmbio e, no final, não deu entrevista.
Após apresentar os resultados recentes do banco, ele frisou que 'os investimentos na indústria, da transformação e extrativa vêm crescendo de forma expressiva'. Segundo ele, o mercado interno está impulsionando o avanço da indústria.
Na véspera, Coutinho havia afirmado que um dólar mais favorável traria crescimento maior dos investimentos. Ele explicou que a taxa atual 'desestimula estratégias mais firmes de investimento' em diversos setores e é importante que 'se desenhe um horizonte mais estável da taxa de câmbio, em que não exista a perspectiva de valorização mais continuada'.
Os dados dos desembolsos do BNDES nos cinco primeiros meses do ano mostram o crescimento por setores. A agropecuária ficou com 31%; a indústria, com 45%; a infra-estrutura, com 29%; comércio e serviços, com 78%. Segundo o chefe do Departamento de Orçamento da instituição, Antonio Rizzo, os dados até maio indicam que o orçamento de R$ 58 bilhões deste ano será, 'com certeza', cumprido. As aprovações cresceram 93% até maio, para R$ 15 bilhões.
CRÍTICAS
O BNDES lançou ontem um livro com uma coletânea de pesquisas feitas nos últimos meses sobre investimentos no País. A publicação mostra que um conjunto de 16 setores deverá investir R$ 1,050 trilhão entre 2007 e 2010, ante R$ 650 bilhões de 2002 a 2006. O trabalho mostra que o peso da indústria da transformação na formação bruta de capital fixo (investimentos) caiu de 29% para 14% entre a década de 1970 e 2005.
A economista e ex-deputada federal pelo PT Maria da Conceição Tavares, que participou do seminário no BNDES, criticou o trabalho, elaborado na gestão de Demian Fiocca. Ela o classificou de parcial por refletir só setores que vão bem. 'A indústria dita tradicional, que empregava, vai para o diabo', disse, citando os setores de confecção e moveleiro entre os mais afetados pelo câmbio.
A economista frisou que a crítica era contra o estudo, não contra Coutinho, que, na sua opinião, está atento aos setores industriais que vão mal. 'Se fosse só com isso (setores que vão bem) que o presidente da casa fosse se preocupar, (o BNDES) não precisaria de presidente. Ele (Coutinho) está preocupado é com o resto', disse ela.
Na visão do economista da UFRJ David Kupfer, um dos principais especialistas em política industrial no País, que participou do evento, o País enfrenta o dilema de definir se quer uma indústria diversificada ou concentrada em poucos segmentos, ligados à commodities e insumos básicos. 'Até o fim da década, o câmbio vai mostrar o preço dele', disse, citando os riscos de desindustrialização do País.