Título: A meta era vencer na abstenção
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2007, Nacional, p. A5

Durante toda a tarde de quarta-feira, o senador Renan Calheiros dava como certa sua absolvição no Conselho de Ética. Ele conduzira pessoalmente uma negociação com integrantes do conselho para que aqueles que não tivessem certeza de sua inocência pelo menos se abstivessem de votar. Assim, apenas cinco ou seis votos a seu favor já seriam suficientes para garantir o arquivamento do processo.

Renan recebera sinais de que poderiam seguir essa linha Adelmir Santana (DF) e Heráclito Fortes (PI), do DEM, Renato Casagrande (PSB-ES) e Augusto Botelho (PT-RR), embora quisessem o aprofundamento das investigações. A seu favor, o presidente do Senado contava os quatro votos do PMDB, o de Romeu Tuma (DEM-SP) e o do suplente de Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que se licenciou. Nessa conta, apenas cinco votariam com certeza contra o arquivamento do processo.

Mas o plano começou a fazer água quando os senadores que Renan esperava que se abstivessem perceberam que isso afetaria o destino do caso. ¿Não seria uma abstenção, mas um voto para um dos lados em questão¿, reconheceu um deles. ¿Ninguém queria carregar esse peso.¿

E a estratégia de Renan desmoronou de vez quando um de seus principais aliados no conselho, Valter Pereira (PMDB-MS), surpreendeu a todos ao defender a continuação das investigações. Em seguida, outro aliado, o relator provisório, Wellington Salgado (PMDB-MG), avisou que se seu parecer não fosse apreciado na sessão renunciaria ao posto, o que acabou fazendo.