Título: Senador se sentiu traído por aliados
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2007, Nacional, p. A5

Diante da derrota sofrida no Conselho de Ética do Senado, na noite de quarta-feira, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), reuniu assessores e parlamentares mais próximos para avaliar o cenário político e o entendimento foi de que sua situação é crítica. Segundo participantes do encontro, Renan concluiu que foi traído pelos companheiros. À sua revelia, os aliados no conselho adiaram a votação do parecer do ex-relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA), favorável ao arquivamento da representação do PSOL contra ele, por suspeita de ter despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.

Para um senador correligionário de Renan, o problema é que o governo e a base aliada perderam para a oposição o controle do Conselho de Ética. Segundo ele, o que mais desgostou o presidente do Senado, obrigando-o a mudar de estratégia e abandonar a pressa em liquidar a questão no conselho, foi o recuo dos companheiros. Renan, disse o senador, queixou-se da traição de aliados dos vários partidos da base governista com os quais contava para ser absolvido, como o petista Augusto Botelho (RR). Mas considerou que o pior foi ser traído por correligionários do PMDB.

De fato, veio de seu partido o maior estrago nos planos de apressar o caso no conselho. Renan foi surpreendido por Valter Pereira (PMDB-MS), que defendeu publicamente o adiamento da votação para que se aprofundasse a investigação. Ele considerou essa ¿a maior de todas as traições¿. A avaliação do grupo de Renan é que foi Pereira quem desencadeou as baixas nos demais partidos, passando para a opinião pública a idéia de que o presidente do Senado foi abandonado pelo governo e pelos correligionários.

Ao final da reunião, a contabilidade dos parlamentares e assessores foi de que, no PT, restou a Renan apenas o apoio da senadora Ideli Salvatti (SC), no conselho, e do senador Aloizio Mercadante (SP). Com pouco efeito prático: na condição de suplente, Ideli não tem direito a voto. E Mercadante nem sequer membro do conselho é.

ERRO ESTRATÉGICO

O grupo mais próximo de Renan avaliou que ele adotou estratégia errada desde o início, quando, no dia 4, fez sua defesa no plenário do Senado sentado na cadeira de presidente. Prevaleceu o entendimento de que seu maior erro foi ter iniciado já naquele dia a apresentação de documentos para tentar comprovar que possui recursos próprios para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Foi a partir deste momento, segundo a avaliação de seus aliados, que Renan teria tirado o foco das acusações envolvendo a empreiteira, concentrando-o nos documentos de sua contabilidade como produtor agropecuário.

Indagado sobre a razão de ter juntado tanto papel em sua defesa, Renan disse que tamanha organização se devia ao fato de que ele sabia que em algum momento a superexposição do posto de presidente do Senado acabaria provocando questionamentos sobre a origem de seu patrimônio.

Um participante da reunião sustentou a tese de que foi Renan quem criou a grande armadilha ao usar, em sua defesa, a contabilidade referente a negócios pessoais. As contas apresentadas não só não convenceram os senadores, como levantaram novas suspeitas. Os participantes do encontro concluíram, ainda, que o advogado do senador, Eduardo Ferrão, não foi eficiente nas intervenções feitas no conselho.

Ainda assim, Renan está longe de entregar os pontos. Ao contrário, considera que há saída para sua situação. Ele aposta que jamais seria cassado pelo plenário e que o caminho no conselho não está esgotado, embora a dificuldade seja grande.