Título: Defesa a conta-gotas não esclareceu dúvidas
Autor: Scarance, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2007, Nacional, p. A8

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) vem reiterando quase diariamente que já se explicou sobre a denúncia de que teria contas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior e, por isso mesmo, não haveria motivo nenhum para se afastar da presidência do Senado. Tanto seu discurso de defesa quanto a documentação apresentada até agora, porém, suscitaram mais dúvidas e, tanto para opositores quanto para a base aliada no Congresso, ainda faltam explicações.

O primeiro questionamento diz respeito à origem dos R$ 12 mil mensais que eram entregues à jornalista Mônica Veloso - com quem Renan tem uma filha de três anos - antes do reconhecimento da paternidade, em dezembro de 2005. Conforme a denúncia original, reforçada por declarações da própria Mônica, o valor era entregue por Cláudio Gontijo, lobista da Mendes Júnior. Renan alega, porém, que o dinheiro era dele próprio e Gontijo apenas ajudava a não dar publicidade ao episódio. Mas a versão do senador tem várias brechas.

Primeiramente, Renan negou que tivesse como comprovar os pagamentos anteriores a dezembro de 2005, mas, na mesma semana, seu advogado entregou provas ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), garantindo que não havia mais o que contestar. Segundo a revista Época, porém, a movimentação que consta nos extratos bancários do parlamentar não coincide com as datas em que Mônica diz ter retirado o dinheiro, no escritório da empreiteira em Brasília, dentro de envelopes.

O vaivém de versões levantou suspeita entre alguns senadores. Eles argumentaram que, se a acusação era falsa, Renan deveria apresentar logo as provas que tinha e derrubá-la de vez. A linha mestra da argumentação de Renan é que ele tem rendimentos agropecuários que dispensariam a ajuda do lobista. Para cada nova suspeita que surge, porém, o senador apresenta novas provas e a defesa a conta-gotas levou o PSOL a pedir abertura de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado.

Outro tranco na defesa foi a revelação, pelo Jornal Nacional, de que há notas frias entre os documentos entregues ao conselho para justificar os rendimentos com gado em Alagoas. Havia empresas não habilitadas e diferenças entre o número de animais vendidos e o declarado nas notas, além de divergências com números de cheques. Uma perícia relâmpago da Polícia Federal não conseguiu certificar que a os documentos eram autênticos e, anteontem, o relatório pedindo arquivamento do caso no Conselho de Ética foi abandonado.

Em quase um mês de escândalo, desde 26 de maio, a tese de Renan foi combatida várias vezes. Em depoimento ao conselho, o advogado de Mônica, Pedro Calmon Filho, acusou-o de pagar ¿R$ 9 mil por fora¿ para a jornalista, além dos R$ 3 mil oficiais, após reconhecer a paternidade. Foi uma sessão com bate-boca e troca de acusações.

Além disso, Renan incluiu a verba indenizatória - reembolso para despesas com o exercício do mandato no Estado - na lista dos rendimentos. Em meio a tantas dúvidas, sua tropa de choque não conseguiu sustentar o arquivamento sumário do caso e Renan terá de depor.