Título: 'Cumprimento da reintegração não é atribuição da USP'
Autor: Westin, Ricardo e Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2007, Vida&, p. A19
Para a reitora da Universidade de São Paulo (USP), Suely Vilela, a reintegração de posse do prédio ocupado há 50 dias ¿não é atribuição¿ da instituição. A declaração foi feita em entrevista por e-mail ao Estado. As perguntas foram enviadas no dia 13 e respondidas ontem pela reitora. No mesmo dia, o governador José Serra também declarou que a desocupação não é função do governo. ¿A ordem é de natureza judicial, sempre a pedido da reitora, essa não é uma decisão do governo¿, disse. Veja a seguir trechos da entrevista.
A senhora já declarou que chegou a um limite na negociação com os alunos, mas mesmo assim a ocupação continua. Até quando a senhora pretende negociar?
A reitoria sempre esteve aberta ao diálogo, mas a retomada das negociações depende da desocupação imediata.
Por que a senhora pediu a reintegração de posse e não a usou até agora?
A ação de reintegração de posse é medida natural do Estado de Direito. Esgotadas as possibilidades de entendimento para a desocupação por meio do diálogo, a universidade adotou as medidas legais necessárias. O cumprimento da liminar obtida não é atribuição da USP.
A senhora acredita que essa crise prejudica a sua gestão ou sua imagem para a opinião pública?
Não é a primeira vez que crises ocorrem na USP. A competência em superá-las e a capacidade de redefinir estratégias para manter a liderança no cenário nacional e internacional fazem parte da história da instituição. A imagem que a opinião pública formará a meu respeito será mais justa, verdadeira e valiosa se levar em conta, pelo menos, o período da minha gestão e seu impacto nos anos seguintes.
Qual é sua opinião sobre os decretos? Havia ameaça à autonomia?
As dúvidas suscitadas no início sobre a interferência na autonomia universitária foram dissipadas com a publicação do decreto declaratório. A questão está superada.
Se o decreto foi esclarecedor, por que a senhora acredita que os alunos ainda não saíram da reitoria?
A não desocupação parece decorrer de questões de conotação política ampla, que vão além dos decretos.
Como a senhora vê o envolvimento de partidos políticos no movimento dos estudantes?
Acredito que os problemas da universidade devem ser resolvidos a partir de análises e entendimentos suprapartidários, visando a atingir seu objetivo primordial, o de propiciar a geração e a extensão do conhecimento e a transferência dos benefícios que ele proporciona à sociedade.
Há diretores da USP que dizem que a senhora preferiu deixar os alunos na reitoria, em vez de usar a força, como uma forma de pressionar o governador a mudar os decretos. Isso é verdade?
Não. Isso é um absurdo. Os reitores das universidades públicas paulistas, tão logo publicados os decretos, discutiram e identificaram a necessidade de ajustes em alguns pontos. A partir daí, foram realizadas reuniões com secretários. As medidas cabíveis já estavam em andamento, o que exclui a hipótese aventada.
Como a senhora viu o movimento de professores que reagiram contra a senhora e pediram sua destituição?
A diversidade de idéias e interpretações são próprias de um ambiente universitário. Como dirigente de uma instituição dessa natureza, conheço esse processo e, a mim, cabe buscar o equilíbrio.