Título: Amorim acusa: estava tudo combinado
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2007, Economia, p. B3

O comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, achou injusta a crítica feita pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, de que europeus e americanos teriam chegado a Potsdam já com um acordo fechado sobre abertura do mercado agrícola. 'Em 2006, quando a Organização Mundial do Comércio (OMC) também não chegou a um acordo, EUA e Europa foram criticados por não se entenderem. Desde então, aproximamos nossas posições. Não é responsável acusar-nos de prejudicar a rodada.'

O problema, segundo o Brasil, é que o acordo entre EUA e Europa se referia a um entendimento sobre cortes de subsídios americanos e a redução de tarifas de importação na Europa. De um lado, Bruxelas aceitaria que os americanos não reduzissem seus subsídios para menos de US$ 15,9 bilhões e, de outro lado, Washington aceitaria os cortes modestos nas barreiras européias. Além disso, pressionariam Brasil e Índia por cortes em suas tarifas industriais de 58%, valor considerado como excessivo.

Os números estavam distantes do que queriam os países emergentes, que aceitavam um corte de suas tarifas industriais de no máximo 50%. 'Eu não poderia fazer um acordo que considerasse como uma traição à industria brasileira, ao Mercosul e ao G-20, mesmo que tivesse algum produto meu que tivesse se beneficiado', afirmou Amorim. 'Acertaram uma zona de conforto entre eles', denunciou Amorim. 'Isso foi um Cancún 2', dizia, em referência à conferencia ministerial da Organização Mundial do Comércio em 2003, quando americanos e europeus montaram um acordo entre si e tentaram convencer os demais a aceitar.

Amorim ainda denunciou um acordo em que americanos ganhariam cotas para seus produtos no mercado europeu. 'Não podíamos aceitar isso. A situação nossa era ficar com salvaguardas para o frango para sempre e cotas de carnes que não chegariam a níveis razoáveis', afirmou. Em troca, os europeus não pressionaram os americanos em reduzir seus subsídios. Amorim conta que a Casa Branca até mesmo endureceu sua posição sobre o teto dos subsídios por produtos, como algodão e soja. O Brasil venceu uma disputa na OMC pelos subsídios ao algodão, mas a proposta americana acabaria fazendo com que os níveis de ajuda fossem superiores ao que o País já havia obtido.

'Chegamos à conclusão de que não íamos ter rodada de desenvolvimento com tais propostas. Deve haver uma mudança de atitude se quiserem concluir a rodada.', disse Amorim.

'Não podemos pagar pela correção de distorções. Isso seria perpetuar a desigualdade do comércio mundial dos últimos 50 anos', concluiu Kamal Nath, ministro indiano.J.C.