Título: Relator que substituíra Cafeteira renuncia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2007, Nacional, p. A4

Pela terceira vez consecutiva, o Conselho de Ética adiou ontem, depois de apenas duas horas de debate, a votação do relatório sobre o processo por quebra de decoro contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Foi mais uma derrota do senador que, desde o início do processo, no fim de maio, tenta votar seu arquivamento. Ontem, diante da pressão da oposição e dos próprios aliados, aceitou depor no conselho.

Nomeado relator no lugar de Epitácio Cafeteira (PTB-MA) - que na segunda-feira pediu afastamento alegando problemas de saúde - Wellington Salgado (PMDB-MG) queria votar o relatório ontem e ameaçou deixar o posto se o adiamento fosse mantido. No fim da sessão acabou renunciando mesmo.

Renan é acusado de ter despesas pessoais - como a pensão para a jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento - pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Ontem, quando viu que na sessão os aliados da tropa de choque não conseguiriam arrancar a votação para arquivar o processo, o senador telefonou para o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e pediu para ir até o conselho dar as suas ¿explicações¿.

Com base em laudo da Polícia Federal, que considerou inconclusiva perícia feita nos documentos apresentados por Renan para comprovar que suas despesas pessoais foram pagas com recursos próprios, dez senadores pediram logo na abertura da sessão, às 17h15, o adiamento da votação para que as investigações fossem aprofundadas. Até o PMDB se dividiu e Valter Pereira (MS), um dos principais defensores de Renan, sustentou que não tinha condições de fazer um julgamento ontem. ¿Não me sinto confortável em votar enquanto as diligências não forem concluídas¿, avisou Pereira, surpreendendo os presentes na sessão. Antes dele, outros senadores do PSDB, do DEM e o petista Eduardo Suplicy (SP) já haviam manifestado posição semelhante, alegando que a votação, naquele momento, poderia representar condenação ou absolvição prematura.

Até o presidente do conselho, Sibá Machado (PT-AC), sugeriu o adiamento, embora no dia anterior quisesse votar o processo a qualquer custo. ¿Com base no relatório da PF, sugiro que não votemos hoje (ontem)¿, disse. No laudo, a PF avalia que são necessários, pelo menos, mais 30 dias de investigação para uma conclusão mais precisa.

ELOGIOS

Jucá, a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), e Almeida Lima (PMDB-SE) saíram em defesa de Renan. Almeida Lima argumentou que o laudo não foi inconclusivo em relação ao que o Conselho de Ética pediu à PF. ¿O relatório tem consistência sobre o que foi pedido. O conselho só pediu a autenticidade dos documentos¿, insistiu. Ideli elogiou Renan por se oferecer a depor e ressalvou que o conselho não pode ultrapassar seus limites de investigação, pois não é CPI. Jucá mostrou preocupação em saber que tipo de análise dos documentos de Renan será feita.

Salgado insistia em votar o relatório ontem. Mas logo na abertura da sessão José Nery (PSOL-PA) pôs em dúvida sua isenção como relator, dizendo que tinha ligações com Renan. Sibá advertiu que só o próprio relator poderia se considerar impedido de assumir a função, o que não ocorreu. No fim da sessão, de qualquer maneira, Salgado acabou renunciando.

No fim, os integrantes do conselho decidiram formar uma comissão para definir seus próximos passos e um cronograma. Fazem parte dela Sibá, Suplicy, Pereira, Sérgio Guerra (PSDB-PE), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Romeu Tuma (DEM-SP). A primeira reunião está marcada para hoje cedo.