Título: Gabeira e Virgílio batem boca antes da sessão
Autor: Scinocca, Ana Paula e Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2007, Nacional, p. A8

Duas horas antes do início da sessão no Conselho de Ética, um bate-boca no Salão Azul do Senado atraiu os holofotes. No corpo-a-corpo para pedir a senadores que não deixassem Renan Calheiros escapar ileso, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) encontrou Arthur Virgílio (PSDB-AM) conversando com jornalistas.

'Como o PSDB vai votar?', perguntou Gabeira. 'Vamos pedir o adiamento da votação', respondeu Virgílio. Inconformado, o deputado do PV - um dos partidos que pediram abertura de processo contra Renan no Conselho de Ética - iniciou, com voz pausada, a tentativa de convencer o tucano a cobrar a renúncia do presidente do Senado.

'Tem de pedir para ele renunciar, Arthur!', exclamou Gabeira. 'O povo brasileiro quer isso porque ele apresentou documentos falsos.' Cenho franzido, Virgílio avaliou que o colega só queria constrangê-lo diante das câmeras de TV. 'Quer dizer que você acha que só nós dois representamos o povo brasileiro?', retrucou o tucano.

Gabeira não deixou por menos e prosseguiu com as estocadas. 'Quem fala pelo povo brasileiro a não ser nós, eleitos? O povo me pediu para lutar contra a corrupção!', devolveu o deputado do PV.

Com a fisionomia enrubescida de raiva, o senador partiu para o contra-ataque. 'Nós vamos dar um voto sofrido, doído, longe do oportunismo. Eu não sou um cavaleiro andante', bradou. Dando as costas para Virgílio, Gabeira prosseguiu sua pregação anti-Renan. 'Pois eu sou. Eu não estou tentando enganar o povo brasileiro', respondeu, já andando em direção ao Salão Verde da Câmara.

Virgílio ficou perplexo, mas não deixou passar um minuto em silêncio. Ao ver o deputado ao longe, chamou: 'Venha aqui, Gabeira! Um guerrilheiro não pode fugir.' O deputado, porém, não escutou. Munido de um telefone celular, caminhava apressadamente para o outro lado.

'É assim mesmo: desde o tempo em que seqüestrou o embaixador (Charles Elbrich, em 1969), ele continua não respeitando a diversidade de opiniões', ironizou o senador tucano. 'Imagine a pretensão. Nem o Lula, que teve 58 milhões de votos, representa o povo brasileiro.'