Título: 'Quem fala em renúncia não me conhece', diz presidente do Senado
Autor: Scinocca, Ana Paula e Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2007, Nacional, p. A8
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deixou ontem a postura reclusa dos dois últimos dias e, depois de presidir sessão solene no Senado, negou enfaticamente a hipótese de renunciar ao cargo. 'Renúncia não existe no meu dicionário. Sou um homem de luta, forjado na luta. Quem fala em renúncia não me conhece', afirmou em rápida conversa com os jornalistas.
Entre seus aliados essa posição também foi enfaticamente repetida. 'Não renuncio. Estou tranqüilo e estou pronto para qualquer coisa, inclusive para enfrentar o processo no plenário', dizia a todos que o abordavam.
Irredutível, Renan entende que só a cadeira de presidente lhe confere a 'blindagem institucional' de que necessita para manter os votos dos governistas que ameaçam desertar de sua base de apoio a cada instante. E insiste em pressa no processo que enfrenta no Conselho de Ética.
Mesmo advertido de que sua insistência em imprimir rito sumário no colegiado havia piorado o clima político no Senado ele também não se convenceu. Ao contrário, insistiu em que o tempo conspira contra ele.
No meio da tarde, emissários de Renan ainda mandaram um recado duro aos aliados que ameaçavam abandoná-lo no Conselho de Ética. Comentavam que muitos dos que se apresentam como 'vestais' e se apressam em condenar o presidente do Senado também têm ligações suspeitas com empreiteiras e relações secretas fora do casamento.
ABATIMENTO
Ao entrar no plenário pouco antes de meio-dia para presidir a sessão solene, em homenagem aos 70 anos do Grupo Bandeirantes, Renan tinha a expressão abatida. Fez um discurso no qual, destacando a importância da liberdade de imprensa, admitiu a pressão que tem sofrido nos últimos dias e pediu cuidado 'com mazelas e pirotecnia'.
'Não existe democracia sem liberdade de imprensa', ressaltou em seu discurso, defendendo a necessidade de 'equilíbrio, serenidade, ética e responsabilidade' na informação ao público. 'Sem a responsabilidade, abre-se espaço para o excesso, para a pirotecnia, tudo isso em desfavor das instituições e a bem do sensacionalismo, mazela que, cada vez mais, é banida dos valores das sociedades evoluídas.'
Insistindo ser um 'fiel defensor' da liberdade de imprensa, Renan afirmou que ela requer 'consciência coletiva, sob pena de se marchar para a ditadura de opinião preconcebida, que, por ser parcial, segue ao sabor dos ventos, inclusive dos ventos do preconceito, dos ventos dos interesses velados'.