Título: Zuleido escreve cartas para salvar contratos
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2007, Nacional, p. A15

Acuado pela Navalha - operação que desvendou suposto esquema de corrupção envolvendo ministérios do governo Lula, governos estaduais e prefeituras -, o empresário Zuleido Veras está de volta. Discretamente, ele retomou a ofensiva e busca contatos com órgãos públicos. Sua meta, diz, é reparar o 'pesado desgaste' que se abateu sobre a Construtora Gautama, que lhe pertence.

A Gautama, que plantou raízes em 9 Estados, é o alvo da Polícia Federal porque teria distribuído propinas a políticos, servidores e advogados - 48 pessoas que, em maio, foram capturadas sob acusação de fraudes em licitações para obras de grande porte, algumas delas previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Após 13 dias na prisão federal em Brasília, Zuleido adotou a humildade como estratégia para o seu retorno. Pouco arrisca falar ao telefone - teme que os arapongas federais continuem gravando suas conversas. Por isso, ele tem recorrido a um expediente prosaico. Escreve cartas, não muito extensas - 4 ou 5 parágrafos, no máximo. 'É uma decisão da empresa, que contou com a anuência dos advogados', assinalou o criminalista Luís Fernando Pacheco, que defende o empreiteiro. 'Ele dá sua versão sobre o problema que, no nosso entender, será superado com o processo e a comprovação da licitude de tudo o que foi feito.'

São deputados e vereadores os primeiros destinatários das correspondências de Zuleido. Uma delas chegou terça-feira às mãos de Alberto Betão Pereira Justino, vereador do PSB e presidente da Câmara de Mauá, na Grande São Paulo.

Em Mauá, a Gautama fechou contrato de R$ 1,62 bilhão, em 2002, para a concessão de serviços de coleta e tratamento de esgoto. A prefeitura escolheu a Ecosama, braço da Gautama. O negócio foi vetado pelo Tribunal de Contas do Estado, que apontou direcionamento na licitação aberta pela Prefeitura de Mauá, na ocasião sob gestão de Osvaldo Dias (PT). O Ministério Público abriu ação de improbidade.

Na carta de 22 linhas a Betão, o empreiteiro afirma que sua empresa 'constituiu ao longo de sua trajetória um portfólio consistente e respeitado por todo mercado, fruto da correção de suas práticas e de seu elevado grau de profissionalismo'.

'Infelizmente - segue -, todo esse acervo de realizações vê-se, no momento, ofuscado por um conjunto de imputações injustas e precipitadas'.

Diz ter fé na justiça. 'Após o arrebatado clamor das últimas semanas, o exame sereno dos fatos permitirá um julgamento técnico e correto que irá recolocar esta discussão no devido trilho, permitindo que as boas práticas da Gautama sejam completamente reconhecidas.'

Zuleido escreveu: 'A Gautama vinha operando em completa normalidade, sendo fiscalizada e recebendo aval de todas as instâncias oficiais, sem que houvesse qualquer tipo de impedimento para o desenvolvimento pleno de suas atividades. Nossas práticas estavam dentro das rigorosas exigências legais, seguindo escrupulosamente as determinações institucionais.'

'Fiquei surpreso e feliz com a carta', disse o vereador Betão, que distribuiu cópia do texto a seus 16 colegas na Câmara. 'Ele (Zuleido) demonstra respeito com o Legislativo.Eu não tenho que prejulgar ninguém.'