Título: Brasil receberá 96 refugiados palestinos
Autor: Barba, Mariana Della
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2007, Internacional, p. A19
O Brasil vai receber 96 palestinos que vivem num campo de refugiados na Jordânia desde que a guerra no Iraque os obrigou a deixar Bagdá. Segundo o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que divulgaram a informação ontem, o grupo deve chegar ao País em meados de agosto.
Desde 2003, os palestinos estão no campo de Ruweished, a 70 quilômetros da fronteira com o Iraque, onde as condições são precárias. 'Inteiramente cercado, o campo é uma verdadeira prisão. Os refugiados não podem sair, a não ser em caso de emergência médica. E ninguém pode entrar sem autorização do governo da Jordânia. É terrível', contou ao Estado a brasileira Karmen Sakhr, que morou em Ruweished por dois anos, de 2004 a 2006, quando era chefe do escritório do Acnur no local.
Segundo Karmen, os palestinos 'pularam de alegria' ao saber que virão para o Brasil, que já recebe cerca de 3.500 refugiados, quase 80% deles africanos. 'Eles me pediram para levar camisa da seleção e bolas de futebol', disse a funcionária do Acnur, que voltará ao campo para dar mais informações ao palestinos sobre como será a vida deles no Brasil.
O governo e o Acnur ainda estão estudando onde eles vão morar. 'Após um trabalho de integração e aprendizado da língua, eles devem ir para cidades de médio porte', disse Karmen, que acredita que eles se sentirão em casa em pouco tempo. No grupo há médicos, engenheiros e professores, além de 15 crianças.
E são justamente esses meninos que mais sofrem com o isolamento do Ruweished imposto pelo governo jordaniano. 'Criamos uma escola, mas como professores são proibidos de entrar, são os próprios pais que dão aula', contou Karmen. 'Como esse currículo não é reconhecido, eles perderam quatro anos de ensino.' O cerco também cria dificuldades para abastecer o campo com comida e remédios. Localizado numa área desértica, o local também sofre com tempestades de areia e é infestado de escorpiões.
Mais de 25 mil palestinos fugiram para o Iraque após a criação do Estado de Israel, em 1948. Com a invasão americana e a queda de Saddam Hussein, em 2003, a violência sectária tomou conta do país e os palestinos também passaram a ser perseguidos, principalmente por milícias xiitas. 'Houve casos em que os refugiados encontravam parentes mortos em suas latas de lixo. Em seguida, recebiam cartas dando 24 horas para fugirem', disse Karmen. O Acnur calcula que 15 mil palestinos continuam no Iraque.
Muitos palestinos no Iraque fogem para campos de refugiados na fronteira com a Síria, mas não conseguem entrar no país. 'Entre os grupos vítimas do conflito iraquiano, os palestinos são os mais vulneráveis, já que literalmente não têm uma pátria e, às vezes, sequer documentos de viagem', disse Luis Varese, representante do Acnur no Brasil. Ele também acredita que os refugiados irão se integrar rapidamente aqui. 'Trabalhamos com seres humanos traumatizados, então nem tudo vai dar certo de imediato. O importante é que aqui eles não se sentirão ameaçados.'