Título: Coutinho põe desenvolvimentista no lugar de Barros de Castro
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2007, Economia, p. B5

O economista João Carlos Ferraz vai assumir a diretoria de planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cargo que vinha sendo ocupado por Antonio Barros de Castro. É a primeira mudança na diretoria do banco, desde que Luciano Coutinho assumiu a presidência, há quase dois meses. Ferraz é considerado um desenvolvimentista, mais alinhado com Coutinho. Castro assumirá a função de assessor-sênior do BNDES.

Ferraz ocupava a diretoria da divisão de desenvolvimento produtivo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e foi diretor do Instituto de Economia (IE) da UFRJ. As áreas de especialização são em economia industrial, organização da indústria e políticas públicas.

Economistas da UFRJ consideram que Ferraz e Barros de Castro podem ser qualificados como desenvolvimentistas, mas com interesses diferentes.

'Ferraz é um desenvolvimentista na mesma linha de Luciano Coutinho. Já o professor Castro tem uma visão mais intensa, não tanto nas questões de competitividade apenas, mas principalmente em torno da questão da inovação', explica o coordenador do Grupo de Conjuntura do IE/UFRJ, Antonio Licha. 'São dois desenvolvimentistas, com abordagens diferentes.'

Segundo Licha, Ferraz tem estudado a fundo a estrutura da indústria brasileira, numa perspectiva de longo prazo. Nas últimas semanas, havia dúvidas entre economistas se Castro permaneceria ou não na direção de planejamento do banco.

Coutinho e Castro estão no campo intermediário do debate sobre política industrial. Mais à esquerda, estariam economistas como o ex-presidente do banco, Carlos Lessa e, à direita, especialistas mais liberais da PUC/RJ e da FGV.

Em linhas gerais, Castro acha que o País deve apostar nas oportunidades do setor privado e em ações mais leves depolítica industrial, enquanto Coutinho defenderia papel mais forte do Estado, ainda que não nos moldes das intervenções da década de 1970.

Castro explicou ontem que nos últimos dois anos e meio em que ficou no banco fez profunda revisão nas políticas operacionais, de onde surgiram, por exemplo, ações como taxa zero em linhas de inovação. Vai se dedicar, na nova função, 'integralmente à formulação de estratégias para o desenvolvimento econômico no País.'

Na visão de Castro, o Brasil já demonstrou capacidade de crescer 4% ao ano. 'A economia há algum tempo já dá sinais de que o crescimento modesto já não é uma questão.'Para ele, o País tem condições de crescer no ritmo de 5% ao ano, ainda que haja restrições, como a questão energética, a serem enfrentadas. Castro diz que novas questões precisam ser estudadas, como o impacto no mundo do dinamismo chinês, o potencial de crescimento do PIB brasileiro e perspectivas para os biocombustíveis.