Título: De novo, o caos aéreo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2007, Notas e Informações, p. A3

Os controladores de vôo que paralisaram os aeroportos do País no dia 30 de março - depois de submeterem os passageiros a uma penosa rotina de atrasos e cancelamentos de vôos durante meses - fizeram nova demonstração de força. Já não fazem greves brancas nem recorrem ao motim - como ocorreu em março, quando deixaram de obedecer a seus superiores hierárquicos. Mudando de tática, desde a semana passada eles passaram a requisitar reparos nos consoles de controle de vôo, alegando que apresentavam defeitos - que os técnicos não detectavam. Provocaram atrasos de vôos e congestionamento nos aeroportos. Mas, desta vez, tiveram uma resposta à altura do Comando da Aeronáutica, que afastou 14 sargentos e está montando um esquema para evitar a repetição do caos.

Na terça-feira, cerca de 80% dos vôos comerciais, a partir das 17 horas, sofreram atrasos ou tiveram de ser cancelados. A operação se repetiu na quarta-feira, prejudicando pelo menos 25% dos vôos. Na quinta-feira, quase metade dos vôos previstos atrasou. Ontem à tarde o sistema estava à beira do colapso.

Nesses dias, milhares de passageiros encalhados nos saguões dos aeroportos puderam meditar sobre o conselho dado pela ministra Marta Suplicy - ¿relaxa e goza¿ - e sobre o diagnóstico feito pelo ministro Guido Mantega, de que o caos aéreo não existe: as filas são o ¿preço do sucesso¿ da política econômica!

Digam o que disserem as lideranças sindicais dos controladores de vôo, nada do que eles estão fazendo é para assegurar a segurança dos passageiros. Estes, na verdade, são as primeiras vítimas de um grupo de sargentos da Aeronáutica que tem objetivos bem definidos. Querem a desmilitarização do serviço - ou seja, continuar no emprego, mas não como militares, sujeitos a normas rígidas de disciplina e hierarquia - e um aumento de salário incompatível com a atual estrutura organizacional das Forças Armadas.

Para atingir esses objetivos, submetem os passageiros a toda sorte de prejuízos, ao mesmo tempo que tentam demonstrar para a opinião pública que estão preocupados com a segurança da navegação aérea. Desta vez, no entanto, as lideranças dos controladores não conseguiram montar uma operação de relações públicas eficiente. E ficou logo evidente que paralisaram parcialmente o transporte aéreo porque vêem que seus objetivos estão ficando cada vez mais distantes.

De fato, no aspecto disciplinar não encontram mais campo livre. O Inquérito Policial Militar que apura o motim de 30 de março foi prorrogado para a realização de diligências complementares e o presidente da Federação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo, um sargento, foi punido com quatro dias de prisão por ter dado entrevistas sem permissão e com mais 20 dias por reincidência. Na área administrativa, o governo deverá contratar mais 523 controladores - além dos 60 que foram admitidos em regime de urgência e que os atuais controladores se recusam a treinar - e ultima os estudos para a criação de uma carreira para a especialidade, começando com o posto de sargento e terminando com o de coronel. Quanto à remuneração, em breve será anunciada uma gratificação para os controladores.

Com essas medidas, o Comando da Aeronáutica pretende resolver o passivo disciplinar criado em 30 de março pelas ¿lideranças negativas¿ que, como afirmou o brigadeiro Juniti Saito em entrevista do Estado, ¿estão trabalhando contra o sistema e devem deixar a Força Aérea¿. Em resumo, adota as medidas necessárias para resolver as questões salariais e de progressão na carreira segundo os procedimentos da instituição militar. É o que a maioria dos sargentos quer: melhorias, mas não à custa da quebra da disciplina e da hierarquia.

Líderes do movimento, no entanto, anunciam greve geral dos controladores se um deles for punido - o que decerto ocorrerá. A Força Sindical, ignorando que o problema dos controladores de vôo não é sindical, mas militar, envolvendo a segurança nacional, ameaça mobilizar ¿as demais categorias do setor aéreo¿ e paralisar os aeroportos de todo o País.

A paralisação dos últimos dias e a ameaça de greve geral são motivos a mais para que o Comando da Aeronáutica expulse da corporação os sargentos que agem como sindicalistas e não, como militares. E para que o governo enquadre nas leis vigentes uma central sindical que incita militares à rebelião.