Título: Para FHC, lista flexível é 'porta para corrupção'
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2007, Nacional, p. A12

Embalado pela determinação do PSDB em se opor à adoção de qualquer sistema de voto em lista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que a reforma política que está em discussão no Congresso seria um ¿desastre¿ e abriria um espaço ainda maior para o avanço da corrupção. Ao discursar para militantes da Juventude do PSDB, na capital paulista, FHC classificou as propostas como ¿falta de ética institucional¿ e cobrou dos parlamentares responsabilidade em relação ao tema.

¿O Congresso tem uma responsabilidade enorme agora. Se aprovar o que está sendo noticiado, é um desastre¿, disse o ex-presidente. ¿É um desastre acabar com a cláusula de barreira, com a coligação em voto proporcional, fazer essa lambança em que metade é pelo voto em lista, ou metade é financiamento privado, metade é público. Estamos abrindo uma porta enorme para a corrupção. Enorme¿, completou.

Ainda segundo FHC, não se trata de facilitar casos de corrupção individual que resultam da ¿falta de moral¿ de alguns políticos. ¿É uma falta de ética institucional. É dizer: liberou geral.¿

A ¿lambança¿ citada pelo ex-presidente faz referência ao sistema de voto em lista flexível, que ganhou espaço nas discussões da reforma diante da forte resistência à proposta original de adotar o esquema de lista fechada ou pré-ordenada. Na lista fechada, eleitores votam apenas na legenda, com base em uma relação de candidatos elaborada previamente pelos partidos, e facilita a adoção do financiamento público exclusivo das campanhas.

Na lista flexível - que já tem apoio de siglas como PT, PMDB, DEM e PC do B -, o eleitor vota primeiro na legenda e, em seguida, no candidato de sua preferência. Apoiadores insistem no financiamento público exclusivo, mas a possibilidade de combiná-lo à arrecadação de recursos privados é citada como forma de evitar a proliferação do caixa 2.

MOTIVAÇÃO

Na última quarta-feira, em um evento na Câmara Municipal, FHC já havia criticado o voto em lista, argumentando, por exemplo, que a estratégia daria um poder excessivo à ¿burocracia dos partidos¿. Além disso, o sistema afastaria eleitores e representantes, na avaliação do ex-presidente. Como forma de promover essa aproximação, FHC tem defendido sucessivamente a adoção do voto distrital já nas eleições municipais do ano que vem.

Mas, dentro da base tucana no Congresso, circula ainda a tese de que o voto em lista fechada representaria um ¿golpe¿ do PT sobre o PSDB. Por ocupar atualmente a Presidência da República, o PT teria, em tese, uma facilidade maior para atrair votos de legenda, ao pedir aos eleitores que endossem a lista de candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Assim, segundo um parlamentar, a próxima eleição legislativa poderia resultar na escolha de 20 deputados petistas para cinco tucanos. O quadro, de acordo com ele, seria invertido se um tucano ocupasse a Presidência.