Título: Grupo já obteve R$ 38 mi do orçamento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2007, Nacional, p. A4

Os irmãos Calheiros, junto com o ex-senador e governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), já amealharam mais de R$ 38 milhões do Orçamento da União desde o início do governo Lula, por meio de suas emendas parlamentares individuais. O índice de aproveitamento chega a 76% - quase o dobro da média dos demais parlamentares, de 42% - e revela a dimensão do poder político do grupo liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), investigado pelo Conselho de Ética, sob suspeita de ter tido despesas pessoais pagas por um lobista da Mendes Júnior, empreiteira que toca a obra do Porto de Maceió.

Contando as emendas da bancada de Alagoas, controladas pelo peemedebista, o valor do Orçamento já liberado por sua influência sobe para R$ 304 milhões. A maior parte desses recursos foi compromissada (empenhada, no jargão orçamentário) nos últimos dois anos, quando Renan assumiu o comando do Senado e consolidou o apoio do PMDB ao presidente Lula.

Além dos irmãos Olavo e Renildo, que são deputados, Teotônio também faz parte do círculo de Renan e foi, durante seu mandato de senador, o tucano que mais conseguiu liberar emendas individuais entre 2003 e 2006: R$ 11,2 milhões de um total de R$ 13 milhões, embora metade ainda não tenha sido paga.

No mesmo período, o presidente do Senado conseguiu liberar R$ 10,1 milhões dos mesmos R$ 13 milhões - número que só não é maior porque R$ 1,5 milhão de suas emendas de 2006, destinadas à compra de unidades móveis de saúde, foram bloqueadas pelo governo após o escândalo das ambulâncias, no ano passado.

O poder do peemedebista é tanto que, das emendas liberadas, R$ 7,8 milhões já foram pagos. Ou seja, de cada R$ 100 que incluiu no Orçamento, Renan conseguiu que o Tesouro pagasse R$ 60. Os outros parlamentares só conseguem o pagamento de 21%, em média.

Desde o início do governo Lula, dos R$ 28 bilhões de emendas parlamentares aprovadas na lei orçamentária, entre individuais e coletivas, cerca de R$ 12 bilhões foram liberados e apenas R$ 6 bilhões pagos. Esses dados foram extraídos dos relatórios de acompanhamento da execução orçamentária disponibilizados no site da Câmara.

A alta performance do grupo de Renan coincide com o período em que outro alagoano, o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), esteve em dois postos de grande influência: no Ministério da Coordenação Política, responsável pela liberação das emendas, e, depois, na presidência da Câmara. O próprio Aldo conseguiu liberar R$ 6,9 milhões de R$ 9,5 milhões de emendas que apresentou, e parte desse dinheiro foi para Alagoas.

Dos irmãos Calheiros, apenas o comunista Renildo não tem base eleitoral em Alagoas, embora tenha nascido lá, e não foi envolvido nas denúncias de recebimento de propina da empreiteira Gautama, do empresário Zuleido Veras. A mais recente suspeita recai sobre Olavo, que, segundo relatório da Polícia Federal, teria recebido R$ 400 mil da construtora.

As denúncias são investigadas no âmbito da Operação Navalha, que levou mais de 40 pessoas para a cadeia. Não por acaso, 100% dos integrantes da bancada de Alagoas se negaram a assinar o pedido de instalação de CPI sobre o escândalo.

As escutas telefônicas da Navalha também captaram o interesse da empreiteira Gautama - apontada como empresa pivô do esquema - em uma obra que contou com o empenho de Renan Calheiros. A pedido do presidente do Senado, o governo federal incluiu no Orçamento de 2005 o valor de R$ 70 milhões para a construção da barragem Duas Bocas, no Rio Pratagy, executada pela Gautama em Alagoas. Em março deste ano, a obra foi incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sua dotação foi ampliada para R$ 120 milhões.