Título: BCs mundiais devem elevar juro para evitar escalada da inflação, alerta BIS
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2007, Economia, p. B1

O Banco de Compensações Internacionais (BIS) defendeu ontem que as autoridades monetárias dos países desenvolvidos elevem os juros para evitar o aumento da inflação e o aprofundamento dos desequilíbrios comerciais globais. Para a instituição, esses dois fatores poderiam acabar com o ótimo momento da economia mundial.

'A contenção de pressões inflacionárias parece requerer futuros apertos (monetários) na maior parte dos países, como já é esperado pelo mercado financeiro e está refletido nas taxas reais dos bônus de longo prazo', afirmou Malcolm Knight, diretor-geral do BIS.

Com sede na Basiléia, Suíça, o BIS é considerado o banco central dos bancos centrais. A instituição realizou neste fim de semana sua Assembléia Anual Geral. O presidente do Banco Central (BC) brasileiro, Henrique Meirelles, não participou do encontro. O País foi representado pelo diretor de Política Econômica do BC, Mario Mesquita.

Knight lembrou que o 'acesso ao crédito continua fácil e as taxas cobradas (dos clientes) estão em níveis recordes de baixa'. Nos últimos anos, os bancos centrais dos países desenvolvidos foram criticados por manter juros muito baixos - tendência que já começou a mudar. Vários analistas dizem que essa posição causou a atual onda de farta liquidez global.

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) promoveu, entre julho de 2004 e junho do ano passado, um processo de elevação da taxa básica de juros, que saiu de 1% para 5,25% ao ano. O Banco Central Europeu (BCE), por sua vez, já elevou sua taxa básica seis vezes desde o segundo semestre de 2006, até os atuais 4% ao ano.

Na avaliação de Knight, a volta das taxas de juros para níveis mais elevados ajudará a reduzir os desequilíbrios financeiros no planeta. Ele se mostrou convicto de que os bancos centrais vão trabalhar para manter os preços estáveis.

Além do aperto monetário, o BIS disse que 'poderia ser necessária a adoção de medidas para reduzir a dívida e os déficits públicos, que ainda são muito altos em vários países'.

O relatório divulgado ao final do encontro observou ainda que os bancos centrais devem olhar além da inflação ao decidir o nível das taxas de juros. Para o BIS, as reações dos mercados financeiros às boas notícias 'se tornaram irracionalmente exuberantes'. O relatório lembrou que choques econômicos importantes, como a Grande Depressão de 1929 e a crise asiática na década de 1990, ocorreram em períodos de baixa inflação

TURBULÊNCIAS

Apesar das preocupações com a inflação, o BIS previu uma taxa de crescimento acima de 4% para a economia mundial em 2007. Será o quinto ano consecutivo de expansão média global superior a 4%. Isso, destacou o banco, apesar do enfraquecimento dos EUA, em decorrência da forte desaceleração do mercado imobiliário.

'O crescimento atingiu os níveis mais altos do período pós-guerra e muitos dos países mais pobres puderam aproveitar essa prosperidade', observou a instituição (ler mais ao lado). Para Knight, esse panorama mostra que o crescimento global ficou mais equilibrado, uma vez que outras regiões do mundo compensam em parte a desaceleração dos EUA.

Para o BIS, o cenário não é livre de turbulências. Além das pressões inflacionárias, o banco disse que o impacto do desaquecimento americano no resto do mundo ainda preocupa, pois ainda não se conhece com total clareza os efeitos da crise imobiliária no resto da economia. O BIS também alertou para a falta de regularidade nos preços de alguns ativos financeiros e das taxas de câmbio.

FRASES

Malcolm Knight Diretor-geral do BIS ¿A contenção de pressões inflacionárias parece requerer futuros apertos (monetários) na maior parte dos países, como já é esperado pelo mercado financeiro e está refletido nas taxas reais dos bônus de longo prazo¿

¿O acesso ao crédito continua fácil e as taxas cobradas estão em níveis recordes de baixa¿

¿Medidas para reduzir dívidas e déficits públicos em alguns países podem ser necessárias¿.