Título: Produtividade recua em 21 setores
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2007, Economia, p. B3

A produtividade de setores tradicionais da indústria brasileira despencou num período de dez anos. De um total de 43 grupos de atividade industrial, 21 perderam, em média, 16% de eficiência entre 1996 e 2005. Essa é uma das principais conclusões de um estudo inédito da consultoria MB Associados, feito com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os perdedores estão órfãos do câmbio como calçados, móveis, confecções e têxteis.

'Os números indicam que o ajuste necessário para contrabalançar os efeitos do câmbio ainda não foi feito nas empresas intensivas em mão-de-obra', diz Sergio Vale, economista da MB Associados que coordenou o estudo. 'Isso significa que as demissões deverão continuar nesses segmentos.'

Em linhas gerais, a produtividade é medida pela capacidade de se produzir ou vender mais com a mesma quantidade de um determinado insumo - que no caso do estudo da MB é representado pela mão-de-obra. Para fazer os cálculos, a consultoria usou dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), recentemente divulgados pelo IBGE, sobre ocupação e valor da transformação industrial (é descontado no preço do produto o custo dos insumos intermediários) dos vários segmentos.

Segundo a MB, o faturamento por trabalhador nas fábricas de calçados, por exemplo, caiu de uma média de R$ 25,20 em 1996 para R$ 19,50 em 2005, já descontada a inflação. A diferença de R$ 5,70 representa perda de 22,6% na produtividade. Na confecção de artigos do vestuário, a perda foi de 22,1% e na fabricação de móveis, de 3,9%. O maior recuo, de 47,3%, foi apontado no setor de máquinas para escritório.

Na indústria como um todo, a eficiência cresceu 31,9% entre 1996 e 2005 (ver ao lado). 'A maioria dos setores que perderam produtividade têm baixa vantagem comparativa com o resto do mundo', observa Vale.

Num cenário de câmbio depreciado como o atual, a produtividade em queda só reforça a deterioração da competitividade. Não foi por obra do acaso que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre mostraram a continuidade da expansão das importações num ritmo quatro vezes maior que o das exportações.

Um exemplo extremo vem da balança comercial da indústria têxtil e de confecção, que acumula déficit de US$ 349 milhões até maio. Enquanto as vendas externas cresceram apenas 0,6% em relação a igual período de 2006, as importações deram um salto de 46,85%.

Só no primeiro quadrimestre, a cadeia têxtil já demitiu 80 mil pessoas, estima Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Baseado em dados do IBGE, ele calcula que as demissões atingiram 100 mil trabalhadores em 2006.

'Com o câmbio desfavorável, sem nenhuma medida para compensar as desigualdades em relação aos concorrentes e sem um trabalho fortíssimo de contenção das importações ilegais, o déficit comercial deverá chegar a US$ 1 bilhão este ano', diz Pimentel. Segundo ele, caso isso se confirme, mais 60 mil demissões deverão ocorrer.

A Kenia, fabricante de tecidos sediada na capital paulista, deixou de exportar há quase dois anos e enfrenta concorrência crescente dos chineses no mercado interno. Nesse período, fechou uma tecelagem em São Caetano do Sul (SP) e demitiu 40 funcionários. Hoje, emprega 92 pessoas. 'Se o câmbio não melhorar, teremos de enxugar ainda mais', diz Rogerio Kadayan, sócio-diretor da Kenia.

Nos últimos 12 meses, a indústria de calçados fechou 1,4 mil empregos com carteira assinada em Franca (SP), sem contar as vagas informais eliminadas.

'Além de perdemos exportação, nossas vendas internas caíram 3%, embora o movimento no comércio tenha crescido 5% em 2006', conta Jorge Félix Donadelli, presidente do Sindicato da Indústria Calçadista de Franca. 'Houve aumento de 8% nas importações.'

A indústria de móveis Movelar, que tinha planos de ampliar em 30% as exportações neste ano, já fala em queda.

'Tivemos de reajustar duas vezes o preço em dólar desde janeiro, e não temos mais como compensar o aumento de custos', afirma Domingos Sávio Rigoni, presidente da empresa. Os preços foram reajustados em 15%.