Título: Chefe da máfia se dizia amigo de Lula, revela testemunha
Autor: Naves, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2007, Nacional, p. A4

O homem apontado como chefe da máfia dos caça-níqueis combatida pela Operação Xeque-Mate, Nilton Cezar Servo, se apresentava como amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo pessoas que o conhecem. No caso do irmão do presidente, Genival Inácio da Silva, a amizade foi confirmada pelo próprio Servo, em depoimento à Polícia Federal ontem.

¿O Cezar dizia abertamente em Campo Grande que era amigo do presidente Lula, que tinha o beneplácito do presidente¿, declarou Jamil Name, dono de casas desativadas de bingo e caça-níqueis, que teve um filho preso na operação e foi chamado a depor. Na entrada do prédio da PF, Name deu entrevista na qual disse que não atua mais na área de caça-níqueis e que seu filho, Jamil Name Filho, foi preso com base em escuta telefônica em que cobrava dívida de um ex-deputado federal. ¿São dois cheques, um de R$ 15 mil e outro de R$ 60 mil, cobrados de Gandhi Jamil Georges, de Ponta Porã¿, afirmou.

Sobre a alegada amizade entre Servo e o presidente Lula, Name disse que ela era alardeada antes e durante a campanha eleitoral de 2006. Servo, na ocasião, era candidato a deputado federal.

O advogado do acusado de chefiar a máfia, Osmar Rasslan, contesta essa versão. Ele sustenta que ¿a amizade era mais política, aproveitando a ocasião das eleições¿ e que ¿não passou disso¿. Sua declaração foi confirmada por advogado do meio político que preferiu não se identificar, mas relatou que era Servo que unilateralmente se aproximava de Lula, durante a campanha.

OUTRAS LIGAÇÕES

A descrição é diferente para a relação entre o suposto chefe da quadrilha e Genival Inácio da Silva, o Vavá. Em depoimento, Servo confirmou ser amigo de Vavá. Seus dois filhos presos na Operação Xeque-Mate, Victor Emanuel e Cezar Segundo, também confirmaram essa amizade à Polícia Federal.

Segundo o advogado dos dois irmãos, Eldes Rodrigues, Servo mantinha relações estreitas também com o compadre de Lula, Dario Morelli Filho - funcionário da prefeitura de Diadema, administrada pelo PT, que também foi preso na operação. ¿É lógico que eles, sendo amigos, trocavam telefonemas¿, disse Eldes. ¿Mas não foi constatada em nenhuma das gravações vínculos comerciais ou que caracterizassem crimes como os que estão sendo imputados a meu cliente

Em seu depoimento, Morelli disse à PF que não tinha sociedade com Servo. De acordo com seu advogado, Milton Fernando Talzi, o que motivou a prisão de Morelli foi a suspeita de que era dono de uma casa de vídeobingo em Ilhabela, litoral paulista, juntamente com Servo. ¿Esse bingo era única e exclusivamente propriedade de Servo¿, afirma o advogado.

Morelli, que é cumpradre do presidente Lula, depôs por quase nove horas, respondendo a 24 quesitos - cada um gerando de duas a três perguntas. ¿Ouvi as gravações telefônicas feitas pela PF. Nenhuma delas chega a ser comprometedora¿, acredita o advogado. ¿Elas me pareceram conversas amistosas.¿ De acordo com o defensor de Morelli, a maioria das perguntas buscava estabelecer vínculo comercial entre ele e Servo.

A investigação da PF pode fornecer ao Ministério Público indícios de envolvimento de Servo com irregularidades. A promotoria já estava no encalço do ex-deputado estadual desde que, em dezembro de 2006, foi denunciado por estelionato e formação de quadrilha e teve a prisão preventiva requerida. O pedido, na época, foi negado.

Servo é acusado de armar um esquema criminoso para reaver bens penhorados pela Justiça em ações trabalhistas movidas por funcionários do bingo que tinha em Campo Grande. Segundo a promotora Esther Souza de Oliveira, durante toda a investigação não foi possível ouvir os envolvidos. ¿Eles nunca eram encontrados para receber a intimação¿, disse.