Título: Lula vai criar vice-presidência no BB para entregar ao PMDB
Autor: Nossa, Leonencio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2007, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descumpriu promessa feita durante sua campanha à reeleição, no ano passado, e mandou retalhar o comando do Banco do Brasil para atender a interesses de aliados políticos. Quase dez meses depois de dizer que não aceitava nomear nem mesmo um faxineiro para o banco, Lula orientou o conselho de administração a propor à assembléia dos acionistas, ainda este mês, a separação da vice-presidência de Governo e Agronegócios em duas unidades, para acomodar o ex-senador Maguito Vilela, do PMDB, e o ex-ministro da Agricultura Luiz Carlos Guedes Pinto, ligado ao PT.

Candidato derrotado ao governo de Goiás nas eleições de 2006, Maguito vai gerenciar R$ 187 bilhões por ano de tributos federais, estaduais e municipais, além das contas de oito Estados e da BB Previdência, subsidiária que cuida de um montante de R$ 1,2 bilhão de 48 mil funcionários de empresas privadas.

Vilela será o banqueiro de Mato Grosso do Sul, Paraná, Tocantins, Rondônia, Roraima, Acre, Amapá e Rio Grande do Norte, Estados que não contam com bancos próprios. O ex-senador vai negociar assuntos dos mais diversos - de uma conta bloqueada a repasses de dinheiro - com os governadores e um número incontável de prefeitos. Dos R$ 500 bilhões arrecadados anualmente em tributos federais no País, a nova vice-presidência de Governo do Banco do Brasil vai gerenciar 24% do bolo. É um dinheiro que não fica permanentemente nos cofres do banco, argumentam assessores da instituição, mas circula bastante, garantindo ao vice-presidente influência e poder em grandes Estados e cidades remotas do mapa político.

AGROFAMILIAR

Já Guedes Pinto, na vice-presidência de Agronegócio do BB, ficará incumbido de gerenciar o crédito agrícola, que chega a um total de R$ 50 bilhões por ano. Antes, as unidades de Governo e Agronegócio eram uma só. Um técnico de carreira da instituição tomava conta do dinheiro.

Guedes Pinto guarda certa afinidade com o Movimento dos Sem-Terra (MST). Nos bastidores do Banco do Brasil foi considerado ¿estranho¿ que a escolha para vice-presidência de Agronegócios tenha recaído em uma pessoa que mostra simpatia pela agricultura familiar.

PROFISSIONALIZAÇÃO

No dia 16 de agosto do ano passado, em plena campanha eleitoral, Lula defendeu a profissionalização do BB, da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em visita à sede do Banco do Brasil, em Brasília, ele distribuiu beijos, criticou a ¿sanha da privatização¿ do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)e ressaltou que nunca pedira aos presidentes dos bancos que empregassem petistas e indicados de partidos aliados.

¿Em todos estes anos em que convivemos, nunca pedi a nenhum deles que colocasse um faxineiro, ascensorista ou assessor, só discutimos redução de juros e facilitação do crédito¿, afirmou à época.

FATIA

O ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, deixou claro ontem que pelo menos a indicação de Maguito, candidato derrotado ao governo de Goiás nas eleições de 2006, foi para atender ao PMDB. ¿O Maguito foi contemplado com a vice-presidência de Governo do banco¿, disse a uma pergunta sobre as reclamações da base aliada por cargos no segundo escalão.

Os peemedebistas goianos cobravam do Planalto uma fatia do bolo. No ano passado, o prefeito de Goiânia, Íris Rezende (PMDB), e Maguito Vilela fizeram campanha ao lado do presidente Lula.