Título: UnB recua e classifica gêmeos como negros
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2007, Nacional, p. A15

Agora, Alex Teixeira da Cunha é negro para a Universidade de Brasília (UnB). Ontem, a instituição divulgou que aprovou recurso feito pelo estudante para ser aceito no sistema de cotas. Mas, como mostrou o Estado há duas semanas, Alex foi classificado como branco na hora de se inscrever para o vestibular, enquanto seu irmão gêmeo idêntico, Alan, foi considerado negro.

Depois de quase virar celebridade nacional por conta da decisão anterior da UnB, Alex comemorou o resultado. ¿Fiquei muito feliz. Agora tenho mais esperanças de passar no vestibular, fica um pouco menos difícil¿, disse ontem. ¿O que quero mesmo é entrar na UnB¿, afirmou. Alex se candidatou a uma vaga no curso de nutrição e seu irmão, Alan, em educação física. Desde a reportagem do Estado, ambos tiveram pouco tempo para estudar, devido à repercussão do caso.

SISTEMA

O sistema de cotas na UnB, ao contrário da maior parte dos existentes no País, leva em conta só a cor, não a situação financeira do estudante. Na hora da inscrição, o candidato a uma das vagas pelo sistema precisa tirar uma foto, que é anexada à documentação e analisada por uma banca, que decide quem é ou não negro. Se a maioria da banca fica em dúvida, a inscrição é negada, para que o candidato recorra. Aí, uma outra banca analisa a foto e, se a dúvida permanece, o candidato é entrevistado. Do total, 20% das vagas da instituição são reservadas para negros.

A UnB não considera que houve erro no caso dos gêmeos porque o processo não havia sido concluído. Segundo Mauro Rabelo, diretor-geral do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos, o processo completo só se dá após o recurso. Ele explicou que caso semelhante, de duas gêmeas, aconteceu em 2005 e só não teve a mesma repercussão. Apesar disso, Rabelo diz que a universidade pode ¿aperfeiçoar¿ a metodologia de seleção. ¿Achamos que está funcionando, mas vamos pensar o que a gente pode aperfeiçoar¿, afirmou.

Alex acha que o sistema precisa ser mudado. ¿Não sei se o que aconteceu comigo vai mudar alguma coisa, mas devia. Não deveria ser só de uma foto do rosto, podia ter uma entrevista. Não dá para dizer se uma pessoa é negra no Brasil só por uma foto¿, avalia. Filho de pai negro, bancário, e mãe branca, dona de casa, Alex foi o mais famoso, mas não o único a ter seu recurso aceito pela UnB. Dos candidatos às cotas, 1.551 não foram aceitos e 69 recorreram. Desses, 23 passaram, entre eles Alex. No total, a universidade terá 2.263 alunos no sistema de cotas.

Em nota, o reitor da UnB, Timothy Mulholland, rechaça acusação de que a instituição faz ¿tribunal racial¿ para selecionar candidatos. ¿O uso de entrevistas e as análises de fotografias já foram adotados por outras instituições de ensino superior no País para inibir comportamento de quem tem intenção de burlar o processo e não prejudicar aqueles para quem as cotas se destinam.¿