Título: Na USP, dois abraços e muito insulto
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2007, Vida&, p. A20

Professores, estudantes e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) fizeram ontem pela manhã o primeiro protesto contrário à invasão da reitoria, desde que a ocupação começou, há 35 dias. O ato reuniu cerca de 200 pessoas, entre elas vários diretores de unidades da instituição, que caminharam em passeata, cantaram o Hino Nacional e deram um abraço simbólico na torre do relógio, marco da USP.

Pouco antes da manifestação começar, foi decidido que o grupo não iria até a porta da reitoria, para evitar confronto com os ocupantes. Mas, mesmo na praça do relógio, a alguns metros do prédio, houve troca de insultos e um princípio de tumulto.

O decreto declaratório editado pelo governador José Serra, que garante a autonomia das universidades, completa hoje uma semana, mas não abriu caminho para a desocupação da reitoria. Os estudantes pretendem permanecer por lá durante todo o feriado. A próxima assembléia está marcada para terça-feira, às 18 horas.

Anteontem à noite, na última assembléia, alguns estudantes até propuseram que se votasse um ¿indicativo de saída¿ da reitoria, mas a idéia foi rejeitada pela maioria. Outros ponderaram que talvez fosse o momento de mudar a pauta de reivindicações e apresentar uma nova contra-proposta para a reitora Suely Vilela, mas a idéia também foi negada. Alguns poucos chegaram a dizer que o movimento poderia começar a se esvaziar.

Indecisos sobre como apresentar um proposta alternativa - eles levaram pelo menos 40 minutos só para decidir o que iriam votar -, optaram por deixar tudo como está. ¿O governo recuou com o decreto declaratório, mas isso não é suficiente¿, bradavam os alunos encapotados com cobertores.

Ontem à tarde, o PSOL apresentou ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) para derrubar os decretos que criaram a Secretaria de Ensino Superior e, na avaliação do partido, conferiram prerrogativas exclusivas das universidades públicas para essa secretaria.

MAIORIA SILENCIOSA

¿Tem de ter um contraponto. Se não fica parecendo que todo mundo está a favor dessa ocupação¿, disse o estudante da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) Frederico Skwara, de 19 anos, que participou da passeata contra a ocupação. ¿Chegou a hora de a maioria silenciosa aparecer¿, disse a aluna de História Priscila Morelatto, de 22 anos.

A diretora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Teresinha Andreoli Pinto, contou que organizou uma reunião na unidade para convidar alunos, professores e funcionários a participar. ¿Tivemos uma boa participação qualitativa, com professores importantes¿, avaliou um dos organizadores, o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Sylvio Sawaya.

PROVOCAÇÕES

Na mesma hora em que a passeata chegou perto da reitoria, cerca de 700 estudantes se reuniam no local em ato conjunto pró-ocupação das três universidades estaduais. Foi então que cerca de 20 alunos desse ato se aproximaram dos que defendiam a desocupação e começaram a vaiar e a gritar ¿ocupa, ocupa¿. O grupo contra a invasão reagiu também com vaias. ¿Vai estudar, vagabundo¿, gritou o professor de Engenharia Mecânica Marcelo Alves. Para ele, a universidade precisa rapidamente cumprir a ordem judicial de desocupação da reitoria.

O grupo que provocou os manifestantes se recusou a falar com a imprensa e ainda ironizou. ¿Somos bárbaros, por isso estamos fazendo isso¿, disse um dos alunos, que não quis se identificar. Segundo Ellen Ruiz, de 21 anos, que estuda História na USP, as provocações aos contrários à invasão foram ¿atos isolados¿.

Ontem, em evento na cidade de Lorena, no Vale do Paraíba, o governador José Serra repetiu que o movimento ¿já está cansando todo mundo e ninguém mais agüenta¿.