Título: Juro real pode se aproximar de 6% no fim do ano
Autor: Freire, Gustavo e Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2007, Economia, p. B3

A perspectiva de o País fechar o ano com uma inflação de 3% - que seria a menor desde 1998 - e o corte de 0,50 ponto porcentual definido ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) abrem espaço para que a taxa Selic chegue ao fim do ano em 10,5% (os mais otimistas falam até em 10%). Caso isso ocorra, os juros reais (descontada a inflação) chegarão perto dos 6% em dezembro, ante os atuais 8,5%, estimam economistas. Taxa, ainda assim, alta se comparada à de outros países.

O ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas avalia que o Copom já poderia ter reduzido a Selic para 10%, porque a inflação está controlada e o risco País caiu muito. Ele explica que o BC reduziu muito lentamente a Selic nos últimos dois anos e por isso a taxa acumulou ¿uma gordura, que está sendo tirada devagar¿. Segundo ele, o Copom pode fazer mais quatro cortes de 0,50 ponto nas próximas reuniões, reduzindo até dezembro em dois pontos a taxa que hoje é de 12%.

A Austin Rating prevê ao menos mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual para as duas próximas reuniões do Copom. O cenário leva em conta o conservadorismo do Banco Central na condução da política monetária e o fato de que a atividade econômica tradicionalmente ganha impulso nos dois últimos trimestres do ano. Ainda assim, o economista da consultoria, Alex Agostini, não descarta a possibilidade de a Selic cair a 10% até o fim do ano.

¿Isso é totalmente factível¿, comenta, explicando que a inflação ¿está tranqüila¿ e o câmbio deverá permanecer valorizado. O dólar fraco tem ajudado a reduzir preços na economia. Thadeu de Freitas lembra que foi justamente o câmbio valorizado que jogou para baixo a inflação no início do Plano Real.

Após os primeiros anos valorizado, o câmbio derrubou o IPCA, índice oficial de inflação do País, para 1,65% em 1998, ano que captou em cheio os efeitos da alta da moeda brasileira. Isso mostra que os efeitos do câmbio fraco levam algum tempo para serem totalmente absorvidos.

A última pesquisa do Banco Central com instituições financeiras, divulgada segunda-feira, mostrou que a projeção média de IPCA para 2007 está em 3,5%. Para Thadeu de Freitas, o pequeno crescimento da inflação em maio foi pontual e a taxa deverá ficar em 3% no ano.

O economista pondera, ainda, que os juros reais ainda são muito altos no Brasil. Lembra que no México a taxa é de 4%. ¿Não faz sentido juros reais de 9%, 10% no Brasil¿, diz ele. Um levantamento da consultoria UpTrend mostra que a taxa real média de 40 países pesquisados é de 2,5%.

As principais distorções do levantamento, além do Brasil, campeão dos juros altos, são a Turquia (juros reais de 7,6%) e Israel (5,2%).

Mesmo que a taxa Selic chegue a 10% em dezembro, levando em conta a perspectiva de inflação de 3,5% em 2008, os juros reais da economia seriam em torno dos 6%. Ainda assim, a taxa brasileira seria a segunda maior do ranking elaborado pela UpTrend, atrás apenas da Turquia (que tem juros reais de 7,6% atualmente) e de Israel (5,2%).

Na avaliação do economista da Austin, o Copom reduziu a taxa em 0,50 ponto porcentual depois de insistir em manter a ¿parcimônia¿ na condução da política monetária, ¿mesmo sem justificativas cabíveis¿.

Para Agostini, a decisão representa um reconhecimento de que havia ¿condições técnicas para reduzir os juros de forma mais veloz na reunião anterior¿. A consultoria acredita que, com o cenário externo favorável, será possível atingir ¿novos pisos históricos¿ nas taxas de juros, que permitiriam ¿desonerar o consumo e o investimento na expansão da produção¿.