Título: Copom retoma corte de 0,5 ponto
Autor: Freire, Gustavo e Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2007, Economia, p. B3

Numa das reuniões mais difíceis dos últimos meses, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual para 12% ao ano. Por 5 votos a 2, os dirigentes do Banco Central (BC) optaram por acelerar o ritmo de corte dos juros, que vinha sendo reduzido na proporção de 0,25 ponto desde janeiro deste ano. O último corte de 0,5 ponto ocorreu na reunião de novembro do ano passado, quando a taxa caiu de 13,75% para 13,25%

No comunicado após o encontro, o BC apenas adaptou a frase da última reunião ao placar de ontem: ¿Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic para 12% ao ano, sem viés, por cinco votos a favor e dois pela redução da taxa Selic em 0,25 ponto porcentual¿. A redução de ontem foi a 16ª consecutiva, num dos maiores ciclos de queda da Selic.

Desde setembro de 2005, o Copom já reduziu os juros em 7,75 pontos porcentuais. Apesar disso, o País continua na terceira colocação dos maiores juros nominais do mundo, perdendo apenas para Turquia (17,5%) e Venezuela (16,7%), segundo a consultoria UpTrend. Já no ranking de juro real (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses), o Brasil é líder absoluto, com taxa de 8,3% ao ano.

A decisão de ontem era esperada pela maioria dos economistas do mercado financeiro, desde a reunião passada. A sinalização de que o BC poderia retomar o corte de 0,5 foi dada pela falta de consenso entre os diretores na decisão de abril. Na ocasião, três diretores votaram a favor de um corte de 0,5 ponto e quatro, pela redução de 0,25.

Mas alguns economistas duvidavam de uma atitude mais arrojada do BC por causa da aceleração da atividade econômica - apesar dos números fracos da produção industrial de abril. O que contou a favor de uma queda maior dos juros foi o cenário amplamente favorável para a inflação. ¿Sem riscos consideráveis para os índices de preço no curto prazo e com a inflação esperada abaixo da meta, a decisão de reduzir a Selic foi a mais adequada¿, afirmou o economista e estrategista do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado. Segundo ele, a maior abertura econômica tem permitido que a demanda agregada cresça a um ritmo superior à oferta sem gerar pressões inflacionárias.

Na opinião do economista da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, o corte de 0,5 ponto é a correção de um excesso de cautela ocorrido em janeiro. Para ele, se o BC ignorar os índices de inflação bem abaixo da meta, vai começar a desprestigiar seu próprio modelo de política monetária baseado especialmente no controle dos índices de preços. Ele reconhece, no entanto, que os níveis de atividade estão acelerados. ¿Mas, com o câmbio nesse patamar, não vejo nenhuma pressão de demanda que possa prejudicar a meta de inflação.¿

O economista do Santander Banespa, Maurício Molan, destaca que dois pontos podem influenciar a decisão do Copom na próxima reunião: a divulgação do PIB na semana que vem e a definição da meta de inflação para 2009 no dia 26 de junho. ¿Se o PIB vier forte, o corte de 0,25 pode vir mas rápido que muitos esperam.¿ Para ele, o Copom deve reduzir 0,5 na próxima reunião e 0,25 na seguinte.

Para os especialistas, o placar dividido deixa novamente em aberto a decisão para o encontro de julho, o que evita um excesso de euforia do mercado financeiro.