Título: Decisão do BC 'alivia' o governo
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2007, Economia, p. B4

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de cortar a taxa de juros em 0,5 ponto porcentual foi um alívio para todos dentro do governo. Reforçou o comportamento adotado pela ala ¿desenvolvimentista¿ do governo, antes mesmo da reunião do Copom de ontem, de evitar críticas ao presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Há algum tempo, Meirelles tinha deixado de ser o alvo.

A perspectiva de crescimento superior a 4% neste ano, a acumulação recorde de reservas internacionais, a queda do risco Brasil, a manutenção da inflação baixa e a criação de empregos formais em ritmo forte calaram os críticos de Meirelles dentro do governo.

A única preocupação que os ¿desenvolvimentistas¿ ainda expressam é com o câmbio, ou seja, com os efeitos da excessiva valorização do real sobre alguns setores da economia. Mesmo neste caso, evitam atribuir a culpa unicamente à política de juros do BC e começam a incorporar, em seus raciocínios, a argumentação de Meirelles de que os elevados saldos comerciais estão na origem do problema.

O sonho de consumo do Palácio do Planalto e de seus aliados políticos é o de que a taxa de juros nominal chegue a 10,50% ao ano em dezembro, o que projetaria uma taxa real (descontada a inflação) em torno de 7% - quase uma rentabilidade de caderneta de poupança. Esse sonho, eles começam a perceber, poderá se tornar realidade se o Copom mantiver o ritmo de corte de 0,5 ponto porcentual.

O cenário atual é, como lembrou uma fonte, totalmente diferente do que existia em janeiro, quando o presidente Lula lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ¿O cenário mudou mais rápido do que se imaginava¿, admitiu a fonte, ao lembrar que, no lançamento do PAC, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou uma projeção de juro nominal de 12,2% ao ano em dezembro, que era a expectativa do mercado.

O que melhor indica a mudança do cenário é que a taxa de 10,50% ao ano projetada por setores do governo para dezembro é a mesma que o mercado previa, em janeiro passado, para o fim de 2009. Se ela se realizar, é como se o País tivesse antecipado os bons indicadores econômicos em dois anos. O atual panorama econômico permite imaginar que o Brasil terá taxa de juro nominal de um dígito - abaixo de 10% ao ano - já a partir do próximo ano.

A atenção do governo volta-se agora para os dados que o IBGE vai divulgar sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. A expectativa é de reforcem a hipótese de expansão próxima de 5% em 2007.