Título: Voto secreto ajuda a obter apoio para absolvição
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Nacional, p. A4

A enquete realizada pelo Estado revelou que alguns senadores admitem votar contra o presidente da Casa, Renan Calheiros, no Conselho de Ética, onde o voto é aberto. Mas no plenário, em que hoje o voto é secreto, optariam pela absolvição.

A maioria dos 16 titulares do conselho se manifesta disposta a punir Renan. Se alguns mostram mais constrangimento e outros revelam-se decididos, o fato é que, de público, só 3 defendem o arquivamento da representação do PSOL: o ex-relator do caso, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), afastado por problemas de saúde; seu substituto, Wellington Salgado (PMDB-MG), que renunciou ao posto 24 horas depois de aceitá-lo, e Gilvam Borges (PMDB-AP).

Mas há titulares de partidos governistas e da oposição que se declaram indecisos ou a favor da abertura do processo e, no entanto, confessam que absolveriam Renan no plenário, se a votação fosse hoje.

Renato Casagrande (PSB-ES) é uma das baixas na base governista com que Renan conta para manter a presidência e o mandato. Ele foi um dos que surpreenderam seu grupo na sessão de quarta-feira, quando o conselho adiou a votação do caso. Mas os aliados alegam que não tiveram opção, diante da reação da opinião pública. ¿Hoje os senadores não podem tomar uma decisão sem ter argumentos para convencer as pessoas que estão acompanhando as sessões do conselho em tempo real, pelo rádio, pela TV e pela internet¿, justifica Casagrande. ¿Mas se Renan conseguir comprovar toda a sua movimentação financeira, mesmo que a opinião pública esteja contrária a ele, voto a seu favor. Aí eu terei argumentos para defender meu ponto de vista em qualquer debate¿, ressalvou.

Borges diz que decidiu seu voto: ¿Tenho posição definida pelo arquivamento do caso.¿ Para ele, as dúvidas levantadas pelo PSOL estão respondidas, porque Renan já teria provado que tinha recursos próprios para bancar a pensão da filha que teve com a jornalista Mônica Veloso. ¿A contabilidade referente às operações de venda de gado não é objeto desta investigação. Se houve sonegação, irregularidade em empresas, isto foge do objeto da representação e não tem nada a ver com o Senado¿, insiste. ¿As pessoas que tiverem posição que assumam. Eu defenderei claramente o voto aberto no plenário. Por que ficar escondido, quando já se escancarou tudo no conselho?¿

Não é o que pensa o conselheiro Jefferson Peres (PDT-AM). Se ficar tudo como está e o processo terminar hoje, ele diz que não tem como absolver Renan no conselho nem no plenário.

¿Se a maioria dos conselheiros não permitir aprofundamento da investigação para esclarecer dúvidas levantadas pela Polícia Federal, a situação se inverterá: a presunção de inocência a que todo acusado tem direito passará à presunção de culpa pela obstrução, que indicaria o medo de que se investigue¿, diz Peres. ¿Seja no conselho ou no plenário, minha posição é esta. Não me articulo nem consulto ninguém para tomar decisões.¿