Título: Para Senado, caso não virou crise institucional
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Nacional, p. A8

A tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de atrelar o processo de que é alvo no Conselho de Ética à instituição que representa, foi rejeitada até por seus aliados. Nenhum dos parlamentares ouvidos pelo Estado concorda com sua alegação de que um eventual pedido de cassação resultará numa crise institucional. ¿Não, não acho que o Senado esteja atravessando uma crise institucional¿, rebateu a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA). ¿O Senado é uma instituição forte e sabe representar bem os Estados.¿

Em declarações feitas na quinta-feira, Renan disse que não permitirá ¿que se leve o Senado a uma crise institucional¿. ¿Não arredarei pé¿, acrescentou, reiterando que tampouco deixará a presidência da Casa.

O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) chama o episódio de ¿caso Renan¿, para mostrar que não há nele nenhum ingrediente que possa, de alguma forma, afetar as instituições brasileiras. ¿Eu não vejo nenhuma crise institucional¿, descartou.

O escândalo começou com uma reportagem da revista Veja, publicada no dia 26 de maio, indicando que o senador alagoano teria contas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Gontijo entregaria mensalmente, em espécie, R$ 8 mil de pensão e R$ 4 mil de aluguel para a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha.

O parlamentar já fez um discurso no Senado e apresentou extratos e comprovantes de rendimentos agropecuários para provar que o dinheiro era dele. Mas uma perícia da Polícia Federal considerou seus argumentos ¿inconsistentes¿.

PRECARIEDADE

¿O que temos é um espetáculo de precariedade nas artimanhas utilizadas até agora para impedir a investigação e que a sociedade tenha os esclarecimentos que deseja¿, afirmou Guerra. Para o senador, foi somente na semana passada que os governistas se conscientizaram de que não dá para impedir o Conselho de Ética de investigar o presidente do Senado.

¿Até agora se trabalhava sem regras, com um relator concluindo o parecer antes de examinar os fatos e outro assumindo pela manhã para renunciar à noite¿, lembrou Guerra, referindo-se aos senadores Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Wellington Salgado (PMDB-MG), ex-relatores do processo.

Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o que está ruim é a imagem do Senado, ¿como mostra a avaliação cada dia pior feita pela população¿. Fora disso, acredita, ¿nem de longe, em nenhuma hipótese, há o perigo de uma crise institucional¿.

Segundo o senador goiano, ¿as instituições do País estão totalmente preservadas¿ e ¿não há riscos para a democracia nem perigo de brigar com a Igreja, com o Supremo, a imprensa ou o Ministério Público¿.

O que deixa ¿negativa¿ a imagem da Casa, na opinião dele, é a tentativa de parte de seus integrantes de impedir a investigação, além de recorrer a manobras para enganar a população. Como exemplo, citou a iniciativa, que chegou a ser analisada recentemente, de transferir para o Supremo Tribunal Federal (STF) o ¿julgamento político¿ de Renan.

¿Tenho certeza de que, se o Supremo receber um ofício do Senado pedindo para investigar seu presidente, vai fazer aviãozinho dele¿, ironizou.

O presidente do Conselho de Ética, Siba Machado (PT-AC), tampouco admitiu a ameaça de uma crise institucional por conta do processo contra Renan. ¿A instituição está preservada¿, garantiu. ¿A Casa vai tomar todo o cuidado para cumprir suas obrigações. Não, eu não acredito na ocorrência de nenhuma crise.¿