Título: Bicheiro afirma ter fotos e vídeos com o clã Calheiros
Autor: Samarco, Christiane e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Nacional, p. A9

O bicheiro Plínio Batista afirmou ontem que, além de cheques, tem fotografias e fitas de vídeos que mostram que o clã Calheiros mantinha relação próxima com ele. Batista comandou até 2002 o jogo ilegal em Maceió e Murici - cidade natal da família de Renan Calheiros (PMDB-AL).

Ele assegura ter financiado a campanha de 1994 de Renan, como revelou o Estado ontem. E garante ainda ter participado da cerimônia de posse de Renan no Ministério da Justiça em 1998. Hoje, fabrica e vende fogos de artifício.

Batista, que é acusado de vários crimes e assassinatos, contou que tem cheques que supostamente comprovam a relação entre ele e o senador. Ele assegura que pagou na extinta gráfica Idéia, de propriedade de Benezido Rodrigues, preso na Operação Rio Nilo, desencadeada no início do ano pela Polícia Federal, material de campanha para Renan. ¿O Plínio pagava cartazes, santinhos e ainda abastecia os carros¿, confirmou Rodrigues ao Estado.

Batista garantiu que tem em seu poder cheques das agências do Banco do Brasil, Produban e da Caixa Econômica Federal, assinados por Remi Calheiros, então prefeito de Murici.

O bicheiro afirmou que, por ordem de Renan, chegou a fazer empréstimos para a Prefeitura de Murici para pagamento dos funcionários. ¿Quando Remi Calheiros ganhou a eleição em Murici, o senador me autorizou a fazer um empréstimo para ele pagar a folha de dezembro e o 13º terceiro¿, acusou.

Parte do empréstimo teria sido devolvida por Remi com cheques dos três bancos. ¿Muitos foram compensados, mas outros voltaram sem fundos, não cobriram. Se o Banco Central quebrar o sigilo da Prefeitura de Murici no anos de 1996 a 2000 vai encontrar muitos cheques dele para mim¿, disse.

Segundo Batista, a renda do bicho, cerca de US$ 10 mil por dia, serviu também para pagar despesas do senador. ¿Paguei despesas de campanha e até despesas de pessoal¿, contou. Entre os gastos de campanha, o bicheiro disse que financiou aluguel de carro, gasolina e distribuição de cartazes.

MOTO

Batista também contou que ontem à tarde ligou para a polícia, após ter sido abordado por duas pessoas numa moto. Segundo seu relato, os homens apontaram as armas - duas espingardas 12 milímetros - e foram embora.

O bicheiro, que estava acompanhado por três seguranças, teria ligado para o secretário da Defesa Social de Alagoas, general Edson Sá Rocha, e registrado a ocorrência. ¿Vieram para me intimidar¿, disse.

Em conversa anterior, Batista já havia dito ao Estado que contratara segurança particular por temer uma reação da família Calheiros. ¿Meu receio é porque o senador sabe que eu tenho prova contra ele.¿

O advogado Eduardo Ferrão, defensor do presidente do Senado, disse que desconhece qualquer envolvimento de Renan com o bicheiro. ¿Essas questões já surgiram em campanhas eleitorais, levantadas por adversários políticos de Renan. Acho que isso pode estar sendo requentado agora e acredito que não tenha procedência¿, disse.