Título: Nova denúncia enfraquece defesa
Autor: Samarco, Christiane e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Nacional, p. A9

As denúncias que ligam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao bicheiro Plínio Batista, que teria financiado sua campanha ao Senado em 1994, vão criar um clima desfavorável à sua defesa no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, segundo a avaliação de senadores. Elas não poderão ser usadas formalmente para municiar o atual processo contra Renan ou para abrir uma eventual nova investigação, mas podem ter efeito moral. ¿Havendo provas, é um caso grave¿, disse ontem o senador Marconi Perillo (PSDB-GO).

Em dois casos anteriores, o Senado arquivou pedido de processo por quebra de decoro porque as denúncias envolviam fatos anteriores ao mandato dos implicados. Foi assim com as denúncias de irregularidades levantadas contra os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG). As acusações feitas agora pelo bicheiro referem-se a um período em que Renan não exercia o mandato parlamentar.

Nos bastidores, senadores avaliam que a sucessão de fatos negativos envolvendo o presidente da Casa dificulta a cada dia o esforço para convencer os plenários do conselho e do Senado de que Renan é inocente.

Ainda assim, senadores que fazem parte da linha de frente da defesa de Renan no Conselho de Ética defendem a tese de que o tamanho do bombardeio poderá acabar produzindo efeito contrário. É o caso do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), que está convencido de que as acusações do bicheiro não terão ¿nenhuma repercussão¿ entre os conselheiros.

¿Na minha opinião sincera, isto vai caracterizar que o processo é mesmo esquizofrênico, como o próprio Renan denunciou ao se queixar de que vive sob ataques diários¿, analisou Borges. ¿Isto vai vitimizar Renan, vai caracterizar que estão querendo derrubá-lo a qualquer custo, com denúncias requentadas¿, emenda o senador, certo de que se trata de uma ¿campanha deliberada para derrubar o presidente do Senado¿.

PROVAS

Pela análise de Borges, a situação de Renan só vai piorar diante do conselho se a ¿campanha¿ se intensificar, trazendo fatos novos ligados à representação do PSOL, em que Renan é acusado de pagar despesas pessoais com recursos do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.

Ele até deu exemplos de fatores complicadores: ¿Se aparecer uma fotografia, um comprovante incriminando Renan neste caso, aí sim isto iria depor muito fortemente contra ele.¿

Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que tem batido duro em Renan nos encontros do Conselho de Ética, a revelação feita pelo bicheiro e noticiada ontem pelo Estado não poderá ser incluída no processo para implicar o presidente do Senado.

¿O fato é anterior ao mandato de Renan e não pode ser objeto de apreciação do conselho¿, afirmou o senador goiano.