Título: Na Gautama, tensão e salários em atraso
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Nacional, p. A11

O clima é tenso na sede da Construtora Gautama - suposto eixo do esquema de corrupção e desvio de verbas públicas descoberto em maio pela Operação Navalha da Polícia Federal. Os 38 funcionários que trabalham no local, um escritório dividido em duas salas no Centro Empresarial Eldorado, em Salvador, até tentam disfarçar, mas a iminência de chegar ao fim do segundo mês sem receber salários aflige boa parte deles.

No saguão do edifício, um funcionário da contabilidade da empresa, que prefere não se identificar, desabafa, ainda que em tom de brincadeira. Afirma que está escolhendo as contas que vai pagar. Está ficando difícil, diz. No escritório, que concentra as operações de contabilidade e de pessoal da empresa, o tema é proibido.

Cercado por seis pilhas de papel - uma notificação da Delegacia Regional do Trabalho visível sobre uma delas - e com semblante preocupado, o gerente de recursos humanos da empreiteira, Venceslau Gonzalez, confirma a situação e ressalta que não há muito a ser feito no momento.

¿Todas as obras da empresa estão paralisadas e os contratantes estão esperando o resultado dessa confusão toda antes de retomar as empreitadas¿, explica. ¿Como a Justiça liberou apenas R$ 20 mil das contas da empresa e não tem entrado nenhum recurso, fica impossível honrar os compromissos.¿

Gonzalez ajuda a coordenar, de Salvador, o contingente de cerca de 2 mil colaboradores da Gautama, entre funcionários e empregados terceirizados, em todo o País. Demissões, conta ele, ainda não foram discutidas. ¿Não fui procurado por ninguém da direção para tratar sobre esse assunto¿, conta. ¿Além disso, nem teríamos como pagar os encargos das demissões agora.¿

Segundo ele, o dono da Gautama, Zuleido Veras, esteve ¿pelo menos uma vez¿ no escritório da empresa, depois de ser solto da carceragem da Polícia Federal em Brasília, na madrugada de 30 de maio. Não precisou a data. ¿Sempre foi assim: ele aparece, resolve o que tem de resolver correndo e viaja na seqüência¿, afirma, garantindo não saber para onde foi o superior.

CASA VAZIA

A mansão onde mora Zuleido, no luxuoso Condomínio Encontro das Águas, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, segue desocupada desde que agentes da PF realizaram buscas no local, em 17 de maio. A correspondência acumula-se na portaria do condomínio.

Semana passada, ¿um amigo da família¿ foi buscar a caixa onde estavam as cartas, segundo um dos seguranças do local. Os vizinhos também afirmam não ter notado movimentação na casa nos últimos dias.

Na cidade, mesmo pessoas que freqüentavam a casa, como colegas donos de empreiteiras, alegam não saber por onde anda o empresário. Alguns dizem que seu filho Rodolpho Veras, também preso pela Operação Navalha - e liberado dois dias antes do pai -, estaria no interior de São Paulo.

A filha Ana Clara, estudante de administração na Universidade Salvador e chamada de Barbie, também saiu de cena. Era ela quem guiava o Audi TT apreendido pela PF. Segundo uma colega, vivia parando em local proibido e cansou de levar multas e ter o carro guinchado.

O apelido de Barbie vem do biótipo da estudante. Alta, magra, cabelos loiros até a cintura, Ana Clara está sempre na moda - e impecável. A colega conta que ela gosta bastante de usar maquiagem, jóias.

Desde que o escândalo com seu pai estourou, a estudante não foi mais vista na universidade. Tampouco tem respondido a e-mails. Parece que ela foi para os Estados Unidos, conta a colega, sem muita certeza.