Título: Funai não faz contato, só protege área
Autor: Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Nacional, p. A14

A Funai deixou de buscar contato com os índios isolados desde os anos 80 e decidiu que deixaria na mão deles a decisão de buscar uma integração com outras sociedades. Isso porque a tentativa de aproximação provocou centenas de conflitos e casos de aldeias inteiras dizimadas por doenças simples, como a gripe. ¿A Funai procura não fazer o contato. Fazemos um cinturão de proteção quando os identificamos¿, explica Marcio Meira, presidente da fundação.

O órgão monitora à distância os povos já reconhecidos. São sei grupos de atuação de campo, chamados de Frentes de Proteção Etno-Ambiental. Sua área de abrangência compreende Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia - regiões onde existe o maior número de referências sobre índios sem contato. Essas frentes de proteção realizam ações de localização, proteção, vigilância e fiscalização, em uma área de 15 milhões de hectares.

Segundo a Coordenação Geral de Índios Isolados, a qual estão subordinadas as frentes, ¿a rapidez com que tem ocorrido a ocupação da região amazônica¿, especialmente no Acre, norte de Mato Grosso, Rondônia, Pará, sul do Amazonas e Roraima, exige ação efetiva da Funai. Há exploração de madeira, minério, fauna e flora. No mesmo documento, a coordenação diz que essa ação se dá ¿no sentido de antecipar-se à invasão e à exploração inadequada das terras indígenas¿, para garantir a vida das populações e evitar que, isoladas ou não, sejam exterminadas.

Mas a Funai, como outros órgãos do governo federal, padece de insuficiência de pessoal e orçamentária. A frente de proteção do Vale do Javari (no Amazonas, fronteira com o Peru) é responsável por uma área de 8.544.482 hectares, demarcada pelo governo. Essa frente protege os índios korubo, recentemente contatados. Mas existem ainda outras 20 referências de índios isolados nesta mesma terra.

As frentes são importantes para a proteção dos povos e também para a identificação de novas ocorrências. Como a do grupo Avá-Canoeiro, que se refugiou na Serra da Mesa (GO), mas não foi localizado pela última expedição da Funai, em julho de 2006. A fundação ainda acredita em sua existência, baseada em vestígios e em relatos de quilombolas que vivem na região.

Existem também casos de um único índio tentando sobreviver isolado na floresta. O mais conhecido é do ¿índio do buraco¿, último remanescente de uma etnia não identificada, no sudoeste de Rondônia. A área onde ele reside, de 8.070 hectares, está interditada pela Funai.