Título: Luta deve continuar por meio do entendimento e do diálogo
Autor: Sawaya, Sylvio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Vida&, p. A26

A autonomia da universidade, forjada e praticada há nove séculos, é a da primazia do livre pensar. A especificidade da universidade reside nisto: pensar livremente, organizar e promover sua realização, produzir conhecimento que, criticamente, ajuda a compreendermos quem somos e o que queremos como povo, nação e país.

A experiência desses dias mostrou-me que o ordenamento institucional exige ação da autoridade por ela constituída com legitimidade.

Esta, a legitimidade, pode ser questionada, mas o funcionamento da instituição deve ser preservado, mesmo em face de decretos apressados, discutidos a posteriori e geradores de equívocos e do combate promovido contra a eles.

A autonomia da universidade, posta à prova, foi confirmada pelos esclarecimentos dados e pelas negociações entre as universidades e o governo do Estado formalizada no Decreto Declaratório nº 1, e foi, sobretudo, afirmada pela solução pacífica da desocupação negociada por todos os envolvidos. A grandeza do acordo para a desocupação legitima a universidade e os protagonistas desse embate, dos maiores já vividos por ela própria.

A luta pela realização da universidade em si é de alto significado. A superação da paralisia e do imobilismo permite a continuidade dessa luta por intermédio do entendimento e do diálogo, que são a base da vida na universidade.

A existência de vencedores ou vencidos não é questão importante no momento. Vale saudar a vitória da universidade, que pertence a todos.

A dureza da refrega produziu afirmações contundentes sobre seus atores e, uma vez superada, deve ser substituída pela compreensão promovendo os objetivos maiores, fundamentados no debate e no avanço das idéias. É tempo de ser magnânimo.

MÉRITO DO CONHECIMENTO

Os colegiados diretores em todos seus níveis participaram com empenho desse processo, mantendo-se críticos, íntegros e atuantes, não abrindo mão de suas responsabilidades e autoridade. A dimensão simbólica central assumiu sua forma plena.

A continuidade do debate no 5º Congresso proposto - e pela ação contínua desses colegiados - saberá encontrar a nova feição institucional que a universidade precisa e deseja nestes tempos.

Os três segmentos - estudantes, funcionários e professores - definirão suas especificidades em prol de uma maior democracia e atualidade universitárias.

A excelência da universidade, sua presença combativa no contexto internacional globalizado, o desafio do ensino de massa, a compreensão crítica e propositiva dos anseios da sociedade; todos estes aspectos serão trabalhados e produzidos a partir desse entendimento.

O mérito do conhecimento será promovido acima de visões cartoriais ou sindicalizantes para a adequada realização da gestão da universidade. A Universidade de São Paulo, em seus mais de 70 anos, herdeira legítima da tradição universitária ocidental mais pura, é forte. O episódio vivido e sua solução demonstra-o.

Esperamos que nós, unidos, sejamos também fortes para interpretar e realizar a dignidade dessa instituição pertencente a todos, especialmente ao povo que a mantém e deve ser por ela compreendido e promovido.