Título: Ricos vão a Amorim para salvar Doha
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Economia, p. B1

Vinte e quatro horas depois do colapso das negociações entre Brasil, Índia, Estados Unidos e Europa (G-4) em Potsdam, na Alemanha, para fechar um pré-acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC), as autoridades comerciais americanas e européias procuraram o chanceler Celso Amorim em Genebra para estudar como reiniciar um diálogo que, na avaliação do Itamaraty, poderá servir para tentar salvar a Rodada Doha.O chanceler, porém, voltou a insistir que as flexibilidades terão de ser mostradas mais por parte dos países ricos que pelos emergentes.

'Não há mais um rompimento (nas negociações). Ficamos de manter contato e há o desejo de se retomar o processo', apressou-se a afirmar Amorim, ainda que confesse não saber como a negociação ocorrerá.

Na semana passada, o G-4 não conseguiu superar as diferenças sobre a abertura do mercado de bens industriais dos países emergentes e dos cortes de subsídios e tarifas agrícolas nos países ricos. Tanto Washington como Bruxelas culparam especialmente o Brasil pelo fracasso diante das posições consideradas 'intransigentes'.

Ontem, com ar de vitória, Amorim fez questão de declarar que a iniciativa de estabelecer contato partiu da representante de Comércio dos EUA, Susan Schwab, e do comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson. 'Caiu a ficha e agora eles estão correndo atrás do Brasil', afirmou, insinuando que sem o País não haverá um acordo.

Para negociadores experientes da OMC, já há quem fale em 'venezuelização' da política comercial brasileira diante de atitudes como as de Potsdam. A avaliação de que estariam correndo atrás do Brasil também foi rejeitada pelos europeus. Segundo um alto funcionário de Bruxelas, uma conversa telefônica ontem entre Mandelson e Amorim serviu para estudar formas de retomar o processo. Mandelson confessou ainda a pessoas próximas que achou 'muito estranho' o comportamento de Amorim na reunião em Potsdam. Na noite anterior, Schwab fez uma visita a Amorim. 'Falamos de coisas substantivas e de como salvar o processo. Ela disse que houve um mal-entendido. Isso só reforça minha convicção de que o Brasil estava certo em Potsdam', disse Amorim.

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, também procurou Amorim. Segundo o chanceler, Lamy sabe que não pode conseguir um acordo sem o Brasil.

Pelos cálculos do governo, os novos contatos são prova de que há espaço para flexibilização entre os ricos e uma constatação de que a posição do País em Potsdam não foi 'radical'. Agora, a idéia do Brasil é abandonar o G-4 e ampliar o grupo para outros emergentes. Para o Itamaraty, seria difícil fazer prevalecer suas posições no G-4, mas com 10 ou 12 países, as possibilidades aumentam.