Título: Chance de acerto comercial com os EUA diminui
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/06/2007, Economia, p. B4

O fracasso da Rodada Doha reduziu as chances de o Brasil conseguir uma abertura maior do mercado americano para os produtos brasileiros. Para o secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mário Mugnaini, o Mercosul deve encontrar dificuldades em fechar um acordo comercial com os Estados Unidos.

'Não vejo condição agora, afirmou ao Estado em sua última entrevista no governo, já que deixará o posto nos próximos dias. Ele acredita, porém, que buscar novos acordos bilaterais ou regionais e ampliar os já existentes podem ser uma alternativa para compensar o fracasso da reunião do G-4 (Brasil, EUA, União Européia e Índia) em Postsdam, na Alemanha.

Os EUA já sinalizaram com a disposição de negociar acordos bilaterais com os países do Mercosul, mas a posição do Brasil tem sido a de uma negociação em bloco, e não país a país. Outra dificuldade causada pela paralisação das negociações na OMC, diz Mugnaini, é a possibilidade de não haver a renovação pelo congresso dos EUA da chamada Trade Promotion Authority (TPA) - dispositivo, também conhecido como 'fast track', que permite ao Executivo negociar acordos de livre comércio sem a possibilidade de emendas pelo Congresso. A TPA vence em 1º de julho.

Por outro lado, embora a comissária de Agricultura da UE, Marianne Fischer Boel, tenha descartado na última quinta-feira um acordo com o Mercosul, Mugnaini acredita ser possível retomar as negociações entre os blocos. Ele pondera que a declaração de Boel deve estar contaminada pelo resultado negativo da Rodada Doha. 'Essa declaração tem de ter uma interpretação no tempo', disse. O secretário defende uma abertura gradual, por meio de cotas, para setores de interesse dos dois países. 'Podemos tentar um acordo centrado nas coisas que são importantes', defendeu.

Mugnaini aposta também na possibilidade de ampliar o acordo de cooperação econômica com o México e com a União Aduaneira da África Austral (Sacu), de implementar o acordo com a Índia e de fechar acordos com Israel e com os países do Golfo Árabe. Ele considera que alguns desses acertos podem ser fundamentais para o programa brasileiro de etanol.

Às vésperas de deixar a Camex e de retornar para a área internacional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mugnaini acredita que um dos principais desafios da sua substituta, Lytha Spíndola - ex-secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento na gestão de Fernando Henrique Cardoso -, será terminar o processo de inclusão da Venezuela e da Bolívia ao Mercosul.

'Vai dar muito trabalho', disse. Ele acredita que atingir a convergência tarifária com a Venezuela deve levar de dois a três anos. 'É um sócio importante, um mercado importante, mas depende de tempo para ajustar suas tarifas.'.

Nesta semana, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que 'não está desesperado' para fazer parte do bloco, que também chamou de 'velho Mercosul'.