Título: Especialistas acham que há poucas chances de aprovar projeto
Autor: Leal, Luciana Nunes e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2007, Nacional, p. A6

Apesar da previsão da Câmara de colocar a reforma política em votação nesta semana, as chances de serem aprovadas mudanças concretas na Lei Eleitoral são restritas, na avaliação de especialistas. Prejudicada pela falta de consenso entre os partidos e pelas atenções desviadas para os escândalos que atingem o Senado, a reforma corre o risco de ser adiada outra vez. ¿As chances são pequenas de que saia realmente alguma coisa¿, diz o cientista político Fabio Wanderley Reis, da UFMG.

Ele argumenta que, até agora, não há indícios que justifiquem aposta na aprovação do ponto mais polêmico da reforma - o voto em lista. A lista fechada, que consta do projeto original, terá de enfrentar a posição contrária do PSDB, além de não ter respaldo em alguns setores das demais legendas. Já a lista flexível, colocada como alternativa por alguns partidos, está longe de reunir um número suficiente de adeptos. ¿Minha expectativa é negativa, é que a coisa está muito enrolada.¿

Lembrando que nem mesmo partidos ¿mais disciplinados¿, como o PT, chegaram a um consenso sobre o voto em lista, o professor do Ibmec-SP, Carlos Melo, diz que temas como o voto distrital também exigiriam um debate mais aprofundado. ¿Eu não apostaria minhas fichas nessa votação. E, mesmo que haja uma aprovação, corremos o risco de passar algo pior do que temos hoje.¿

Para o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, da FGV, é possível que alguma regra seja votada, mas questões polêmicas devem ficar pendentes. ¿Aparentemente, sai alguma coisa. Mas, se será algo consensual, não sabemos¿, comenta o especialista.

RISCO

Caso a votação na Câmara de fato fracasse, a reforma política corre o risco de voltar para a gaveta, prevêem os cientistas. Com a aproximação do recesso parlamentar de julho, o tema pode ficar para o segundo semestre, atrasando a apreciação da matéria no Senado. Para valer nas eleições municipais de 2008, a reforma teria de ser aprovada nas duas Casas até o início de outubro.

Melo avalia que os escândalos que atingem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e seu colega Joaquim Roriz (PMDB-GO) tendem a dificultar ainda mais a tramitação do texto. ¿Mesmo que a reforma seja aprovada na Câmara, é pouco provável que o Senado aprecie isso a tempo de valer para as próximas eleições¿, explica.

O cientista político da FGV afirma que a demora pode ser positiva, já que o assunto, na sua avaliação, claramente carece de discussão. ¿Debate depende de vontade de debater. E tem gente que gosta de deixar para depois.¿