Título: Juiz aceita denúncia contra 39 envolvidos
Autor: Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2007, Nacional, p. A7

O juiz da 5ª Vara Federal de Mato Grosso do Sul, Dalton Kita Conrado, aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra os 39 acusados de integrar a máfia dos caça-níqueis, entre eles o amigo e compadre do presidente Lula, Dario Morelli Filho. Com a decisão, Morelli passa a responder formalmente como réu no processo criminal. Ele é acusado por contrabando, formação de quadrilha e falsidade ideológica. O amigo de Lula foi indiciado também por corrupção ativa pela Polícia Federal, responsável pelas investigações da Operação Xeque-Mate, mas os procuradores pediram mais diligências para subsidiar a acusação deste crime.

A decisão do juiz, que recebeu o dossiê do Ministério Público na íntegra, foi dada na noite de sexta-feira. Na próxima quinta-feira, os 39 acusados de integrar a organização criminosa que explorava os jogos de azar em cinco Estados (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Rondônia) começarão a ser ouvidos no processo. Eles são acusados de agirem em cinco organizações criminosas, com auxílio de policiais, advogados e empresários.

O primeiro a ser ouvido será o ex-deputado estadual paranaense Nilton Servo, acusado de ser o líder da quadrilha. O grupo, segundo as investigações da PF, chegava a movimentar R$ 250 mil por dia com a jogatina. Além de Servo, o juiz quer ouvir primeiramente os outros seis denunciados que estão detidos, com prisão preventiva, para depois passar aos interrogatórios dos demais envolvidos - o que deve ocorrer em agosto. Os que moram em outras cidades, como é o caso de Morelli, serão ouvidos por meio de carta precatória.

Os denunciados podem pegar penas que variam de 3 a 28 anos de prisão. Servo, que responderá por contrabando, formação de quadrilha, corrupção ativa e falsidade ideológica, está preso desde dia 4, quando foi deflagrada a operação.

De acordo com a PF, Servo e Morelli eram sócios na Deck Vídeo Bingo, casa instalada em Ilhabela (SP). A empresa está registrada em nome de Renato Costacurta Prata, um suposto laranja. O advogado de Morelli, Milton Fernando Talzi, afirma que não há provas de que seu cliente participou do ato de assinatura do contrato. Segundo a defesa, o amigo de Lula apenas prestava serviços a Servo na casa de videobingo.

Outro ponto central da defesa de Morelli e de Servo é que eles não podem ser acusados de contrabando, pois as máquinas caça-níqueis são alugadas. O argumento é que como locatários, eles não podem responder pela origem dos equipamentos.

Segundo o advogado de Servo, Eldes Rodrigues, notas e recibos podem atestar essas transações. Pelas investigações da PF, as empresas Multiplay e Paradise, de São Paulo, forneciam as máquinas para as quadrilhas e elas eram montadas com produtos contrabandeados.

VAVÁ

Indiciado pela PF pelos crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio, o irmão mais velho do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, não foi denunciado à Justiça. Os procuradores pediram mais investigações à PF, argumentando que ¿não há informações suficientes¿ nos autos sobre quem seriam os possíveis beneficiários do lobby que teria sido feito por ele.

Vavá foi flagrado em grampos da Operação Xeque-Mate supostamente defendendo interesses da máfia dos caça-níqueis e de outros empresários em troca de dinheiro. A PF sustenta que Vavá chegou a conversar pessoalmente com Lula sobre máquinas caça-níqueis.