Título: Angra 3 põe Brasil em nova onda de expansão de usinas nucleares
Autor: Pereira, Renée.
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2007, Economia, p. B4

A decisão do governo de retomar o projeto de construção de Angra 3 põe o Brasil na nova onda de expansão de usinas nucleares desencadeada no mundo. Estudo recente do Instituto de Engenharia (IE) de São Paulo mostra que hoje existem 30 unidades em construção, 74 planejadas e 182 propostas, que representam 255 mil megawatts elétricos (MWe).

'Durante algum tempo houve uma demonização da energia nuclear, mas é uma opção a outras fontes mais poluentes', afirma o diretor do IE, Miracyr Marcato, responsável pelo trabalho 'A quem vamos recorrer quando faltar energia?', perguntou ele.

Marcato se refere ao movimento antinuclear que levou ao abandono da opção pela energia nuclear na Itália, na Alemanha e em outros países industrializados. Mas, destaca ele, esses países continuam dependentes da energia nuclear. 'A Itália, por exemplo, deixou de expandir seu parque, mas importa energia da Suíça e da França, onde a produção é nuclear.'

Segundo o levantamento do instituto, os países com maior número de usinas em construção são os emergentes com taxas elevadas de crescimento. A Índia tem seis usinas de 2.976 MWe, a Rússia, cinco de 2.720 MWe, e a China, quatro de 3.170 MWe. Juntos esses países têm 35 unidades planejadas para construção.

Segundo informações recentes, para diversificar as fontes energéticas e reduzir o gasto de carvão e petróleo, a China pretende atingir uma capacidade nuclear de 40 mil MWe. Para tanto, teria de construir dois reatores de mil megawatts por ano nos próximos 15 anos.

No Brasil, além de Angra 3, há propostas de outras quatro unidades, diz Marcato. Na avaliação dele, a energia nuclear vai contribuir para dar maior confiabilidade ao sistema elétrico nacional, cuja produção é predominantemente hídrica e tem grande dependência das chuvas.

Além disso, Angra 3 vai dar algum fôlego ao governo, que não tem conseguido contornar com agilidade as questões ambientais na construção de grandes hidrelétricas, como o Complexo do Rio Madeira e Belo Monte.

Marcato lembra ainda que a nova geração de hidrelétricas não tem capacidade de armazenamento de água, como as usinas antigas de grandes reservatórios. Essa tem sido uma saída para amenizar os impactos ambientais causados pelas inundações de florestas. 'A outra alternativa é o gás, mas não temos oferta abundante para a produção de energia elétrica', diz ele.

O diretor destaca no estudo que, para garantir um crescimento da economia de 4% ao ano, o País precisará duplicar a oferta de energia per capita até 2020. A capacidade terá de aumentar em 13 mil MW até 2010, 27 mil MW entre 2010 e 2015 e 65 mil MW entre 2015 e 2030. Isso significa cerca de 5 mil MW/ano de forma continuada a partir deste ano, destaca o estudo, que será apresentado quinta-feira em evento do IE, em São Paulo.

NÚMEROS

30 usinas estão em construção hoje em todo o mundo, sobretudo nos países emergentes com altas taxas de crescimento econômico

74 usinas estão sendo planejadas para serem construídas

255mil MW é o quanto de capacidade produtiva de energia será adicionada quando todas estiverem prontas

OPINIÕES

Luiz Inácio Lula da Silva Presidente 'Sobre Angra 3, se queremos crescer 5%, temos de dizer aos investidores que vamos garantir energia a partir de 2012. E não tem porque não usar energia nuclear, que não tem emissões e a tecnologia brasileira é boa' (15/6/2007)

Marina Silva Ministra do Meio Ambiente ¿Nos últimos 15 anos, nenhum país fez usinas nucleares porque há muitos problemas com o resíduo nuclear. Nós temos outras fontes, um grande potencial hidrelétrico e formas limpas de energia nas quais devemos investir¿(10/5/2007)

Dilma Rousseff Ministra da Casa Civil ¿A questão da geração nuclear é uma das possibilidades ... Não acredito que tenhamos muitas alternativas porque, do ponto de vista técnico, as energias solar e eólica não são alternativas reais para um país em crescimento¿(8/5/2007)