Título: Marina nem foi à reunião do CNPE
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2007, Economia, p. B4

A decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de aprovar a construção da Usina Nuclear de Angra 3 estava prevista desde a segunda quinzena de abril. Foi quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a informação de que o Ibama não concederia as licenças prévias para a construção de duas hidrelétricas no Rio Madeira até 31 de maio.

Mesmo assim, de acordo com um auxiliar do presidente, a decisão de Lula, comunicada a pouquíssimos ministros, aguardou um pouco para ser tornada pública. Ele optara por esperar mais um pouco, na esperança de que o Ibama concedesse as licenças para as Hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio.

Como esperou em vão, na segunda quinzena de maio Lula comunicou que tiraria Angra 3 da gaveta. O presidente decidiu, na mesma época, que marcaria uma reunião do CNPE. Como havia problemas na agenda, Lula a marcou para um mês depois, mas não pôde participar.

Da parte da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a certeza de que a decisão de retomar as obras de Angra 3 era tão grande que ela resolveu nem participar. Alegou que tinha encontro no Rio de Janeiro com representante da Câmara de Comércio Brasil/Estados Unidos e mandou seu secretário-executivo, João Paulo Capobianco, representá-la. Capobianco foi o único a dar o voto contrário, na goleada de 8 a 1.

Marina limitou-se a dizer ontem, no Rio, que a posição de seu ministério é contrária à construção de usinas nucleares por entender que o Brasil tem condição de optar por outras fontes de energia mais baratas e menos perigosas. Mas Marina não moveu uma palha para tentar reverter o voto dos conselheiros.

Tudo o que antecedeu a reunião do CNPE apontou para o desejo do governo de retomar a construção de usinas nucleares, tanto que a previsão é de que Angra 3 entre em operação por volta de 2012. Mas o Brasil necessita de energia já em 2009. Portanto, mais que a correria atrás de fontes de energia a qualquer custo, a decisão de construir Angra 3 indica uma política de governo.

No início, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, resistiu à idéia de construir Angra 3, não por questões ambientais, mas por motivos econômicos. Ela dizia que a energia nuclear é muito cara. Mas, diante da necessidade do Brasil de ampliar urgentemente a matriz energética, cedeu. Até porque fontes alternativas de energia levantadas por Marina, como a solar e a eólica, estão com preços iguais ou superiores ao da energia nuclear.

O trabalhos de revisão do programa nuclear ficaram prontos em junho de 2006, na véspera do início da campanha eleitoral.