Título: Para analistas, custear eleição com verba pública, sem lista, é inadmissível
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2007, Nacional, p. A10

Ante a decisão da Câmara de enterrar de vez a adoção do voto em lista no Brasil, a tentativa de levar adiante o financiamento público de campanha seria ¿inviável¿, ¿ imoral¿ ou até um ¿aborto da natureza¿, na visão de especialistas. Caso a idéia persista, cientistas políticos avaliam que o País poderá vivenciar um quadro mais grave que o de 2005, quando eclodiu o escândalo do mensalão, acompanhado de denúncias de caixa 2 na campanha presidencial.

A avaliação é de que, além de não inibir a ¿promiscuidade¿ da relação entre o poder público e poder privado nas eleições, esse caminho traria o risco de contribuintes arcarem com os prejuízos de eventuais irregularidades. Como o dinheiro público destinado às campanhas teria de ser distribuído entre milhares e milhares de candidatos, nem a sociedade nem a Justiça Eleitoral teriam condições de fiscalizar adequadamente a aplicação desses recursos.

¿Seria ilegítimo e imoral o financiamento público de campanha destinando verbas a candidatos individuais. Se é que ele fazia algum sentido, teria que vir no bojo da votação em lista fechada¿, diz o diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo Fornazieri. ¿Aprovar dessa forma o financiamento público seria um aborto da natureza¿, completa o cientista do Ibmec-SP Carlos Melo.

Fornazieri avalia, inclusive, que o interesse de parte dos parlamentares em manter um sistema que permite o ¿enriquecimento ilícito¿ contribuiu para que o voto em lista se tornasse um ponto tão polêmico da reforma. ¿Esse sistema que temos faz com que um indivíduo possa agregar privilégios e negócios em torno de seu mandato. Ele cria um pequeno feudo.¿

Para o professor Fabio Wanderley Reis, da UFMG, o voto em lista trazia exatamente a oportunidade de acabar com o individualismo exagerado e o ¿populismo personalista¿ da política nacional. ¿Quando o dono do mandato acaba sendo o deputado, vemos as barganhas das quais ele acaba sendo titular.¿

Além de condenarem o financiamento público no sistema atual, esses especialistas argumentam que a decisão tomada pela Câmara também enterra a chance de realizar uma reforma política profunda. Daqui para a frente, eles esperam no máximo mudanças como fidelidade partidária, fim das coligações proporcionais ou cláusula de barreira.