Título: Servo diz que deu dinheiro a Vavá
Autor: Naves, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2007, Nacional, p. A11

Preso pela Operação Xeque-Mate sob acusação de liderar a máfia dos caça-níqueis, o ex-deputado pelo Paraná Nilton César Servo afirmou ontem à Justiça Federal que deu dinheiro a Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho do presidente Lula. Ele não revelou o valor que repassou a Vavá nem quando isso ocorreu. ¿Eu apenas emprestei um dinheiro por amizade ao irmão do atual presidente da República, sem exigência de qualquer contrapartida.¿

Alvos da Xeque-Mate, Servo e Vavá foram pegos pelo grampo telefônico. A Polícia Federal acusa Servo de corrupção ativa, contrabando, quadrilha e falsidade ideológica. Vavá, indiciado por tráfico de influência e exploração de prestígio, não foi localizado ontem para falar sobre o caso. Ele não é réu no processo judicial porque o Ministério Público Federal não o denunciou. Os procuradores, no entanto, requisitaram à PF novas investigações sobre Vavá, ¿considerando que a eventual prática de alguma conduta criminosa pode ter ocorrido em São Paulo¿.

Interrogado durante quase cinco horas pelo juiz Dalton Igor Kita Conrado, da 5.ª Vara Federal de Campo Grande (MS), Servo disse: ¿Ocorre que a Polícia Federal extraiu das gravações minha conversa com o irmão do presidente e deduziram que eu estava tentando praticar qualquer crime contra a administração pública. Nunca tive empresa que prestasse serviços ao governo.¿

Servo declarou ainda que ¿é muito amigo¿ do empresário Dario Morelli Filho, compadre de Lula. Relatório da PF revela que Servo e Morelli são sócios em casas de bingo. O ex-deputado negou a parceria com o amigo do presidente, mas a investigação federal identificou repasses de dinheiro entre ambos.

Para explicar valores que teria recebido do compadre de Lula, Servo disse ao juiz: ¿Devido a nossa amizade (Morelli) passou a me ajudar de forma muito prestativa transportando coisas e nós até Ilhabela (SP) com seu barco. Também devido ao meu nome estar no Serasa, (Morelli) me emprestava cheques pré-datados para pagamentos de despesas. Passei a contribuir nas despesas do barco com aproximadamente R$ 1,5 mil por mês e também com relação à manutenção de sua casa na qual eu ficava hospedado.¿

Relatório da PF atribui a Servo participação nas atividades da máfia. ¿Servo deposita ativos de origem ilícita em contas bancárias de terceiros laranjas.¿

O ex-deputado, que foi presidente da Associação Nacional de Jogos e Bingos, negou contrabando e reclamou da ação da PF. Segundo ele, o grampo mostrou ¿inúmeras pessoas¿ comprando ou vendendo máquinas caça-níqueis. ¿Essas pessoas foram simplesmente desprezadas no inquérito policial, a PF se fixou na minha pessoa, me elegendo como líder da máfia nacional de caça-níqueis. Prenderam meu filho José Lázaro, de 19 anos, que é músico e nem sabe o que é uma máquina caça-níqueis. Não vejo razão para tal violência, rasparam minha cabeça no presídio federal.¿

Servo disse que sua renda mensal média é de R$ 15 mil. Ele recorreu ao expediente usado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL)para justificar seus ganhos. ¿Por não ter emprego fixo não tenho como precisar de onde são provenientes (os R$ 15 mil), a renda pode vir da venda de gado entre outras coisas.¿