Título: G-20 racha e ameaça liderança do Brasil
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2007, Economia, p. B7

Em uma iniciativa que pode minar a influência do Brasil nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), um grupo composto por países latino-americanos e outras economias emergentes apresentou uma nova proposta sobre como deve ocorrer o corte das tarifas de importação de bens industriais. O Brasil, assim como a Argentina, defende que o corte máximo seja de 50%. Para o grupo formado por México, Chile, Costa Rica, Peru e Colômbia, a taxa de cortes poderia ser de até 60%.

Na semana passada, Brasil, Índia, Estados Unidos e Europa (grupo conhecido como G-4) fracassaram em chegar a um acordo na OMC durante uma conferência em Potsdam, na Alemanha. O motivo, segundo Bruxelas, foi a recusa do Brasil em aceitar cortes mais profundos em suas tarifas de importação de bens industriais. O chanceler Celso Amorim, porém, argumentou que a recusa teria ocorrido diante da proposta de abertura dos mercados agrícolas, considerada insuficiente.

Na reunião, Brasil e Índia representavam supostamente os interesses dos países em desenvolvimento e, em nome disso, teriam rejeitado a exigência dos países ricos em tarifas. A iniciativa foi aplaudida por países como Venezuela, Cuba e África do Sul.

Mas nem todos os governos de economias em desenvolvimento apreciaram a iniciativa e agora lançam sua própria estratégia. Ontem, em Genebra, um grupo de nove países apresentou o que acredita que deva ser 'um meio-termo' na liberalização dos mercados mundiais.

Além dos latinos, o grupo tem o apoio de Tailândia, Cingapura e Hong Kong. Na semana passada, o governo americano já havia convocado parte desses países para uma reunião, com objetivo de fortalecer suas posições nas negociações e, assim, reduzir a influência brasileira.

O que ainda surpreendeu muitos é que parte desses países é filiada ao G-20, grupo liderado pelo Brasil nas negociações agrícolas. Tailândia e México, por exemplo, estão no G-20. Para diplomatas em Genebra, a atitude mostra que 'o Itamaraty não estará sempre no centro das atenções nem sempre será o fator de convergência'.

FLEXIBILIDADE

Além de propor cortes de até 60% nas tarifas, o novo grupo pede que os países ricos estabeleçam cortes acima de 75% em suas próprias tarifas de importação. 'Chegou o momento de todos mostrarem a flexibilidade necessária para concluir as negociações, no mais tardar, até o início de 2008', diz a proposta, submetida ontem à OMC.

'O tempo está acabando, por isso precisamos encorajar nossos membros a mostrar flexibilidade nos próximos dias', conclui o documento, que ainda sugere equilíbrio entre o que será oferecido em produtos industriais e o que os emergentes ganharão no setor agrícola

O presidente das negociações agrícolas da OMC, Crawford Falconer, prometeu apresentar sua proposta final na próxima semana e garantiu que levará em consideração todos os pontos de vista.